terça-feira, 22 de setembro de 2009

O ELO PERDIDO NO CINEMA

Ainda inédito no Brasil, A Terra Perdida (Land Of The Lost, EUA, 2009) é uma tentativa decepcionante de homenagear a série de TV americana exibida aqui no Brasil pelo SBT no início dos anos 80 com o título de O Elo Perdido. Quem foi criança nessa época lembra bem da família Marshall - o pai Rick e os filhos Will e Holly, que caem de uma cachoeira e vão parar em outro tempo e outro mundo, uma terra cheia de mistérios, dinossauros e criaturas assustadoras (quem não lembra dos barulhos terríveis dos sleestaks?). Durante a série, que durou 3 temporadas exibidas originalmente nos EUA entre 1974 e 1976, o trio passa tramando a fuga daquele mundo, sempre sem sucesso, e conta ainda com a ajuda de um primata da raça Pakuni chamado Cha-ka.
Pegar essa premissa e recriar no cinema o mundo e as criaturas da série com as tecnologias disponíveis nos dias de hoje renderia uma boa franquia, não fosse a incompetência do roteiro, da direção e da maioria do elenco desta produção atual. Na história, Rick Marshall (o sofrível Will Ferrel) é um cientista que cria um aparelho capaz de viajar no tempo e no espaço. Seus filhos foram convertidos na pesquisadora Holly Cantrell (Anna Friel, a protagonista da série Pushing Daisies e a única presença digna de alguma atenção aqui) e no guia turístico Will Stanton (o desconhecido e canastrão Danny McBride) que, juntamente com Marshall, vão parar na tal terra perdida (qual o propósito de alterar até a tradução do título para o português?). Lá encontram desertos, florestas, vales cheios de dinossauros, criaturas conhecidas como sleestaks e pakunis, dentre os quais, Cha-ka, divertido e ingênuo na série original, aqui é reduzido a um palhaço, interpretado por um tal de Jorma Taccone. O resto nem vale a pena contar...
Em condições normais, este é um tipo de filme que não mereceria nada mais do que um alerta para não ser assistido, não fosse a desfiguração de um clássico da infância de muita gente da geração anos 80. Mesmo com efeitos especiais toscos e poucos recursos, a série divertia, assustava e levantava suspense. OK, alguém vai dizer que "quando a gente é criança é mais legal, depois perde a graça", e é aí que vou fazer a defesa: em 2008 foram lançadas as 3 temporadas em DVD no Brasil, as quais dediquei tempo e dinheiro para assistir. Confesso que me diverti muito, quase tanto quanto antigamente.
Em termos de efeitos especiais e construção das criaturas, vê-se que foi gasta uma quantia considerável, pois ficou tudo perfeito, mas isso é só o que presta - a perseguição por risos fáceis fez denegrir até a personalidade dos dinossauros. Com enredo fraco, roteiro ruim, personagens execráveis e uma transposição mal feita da série de origem, o filme não possui identidade e chuta para todos os lados: tenta criar um drama ralo de superação, tenta ser engraçado, tenta flertar, sem sucesso, com a ficção científica, tenta impor ação, tenta, tenta e só tenta... Aliado a piadas de mau gosto, envolvendo escatologias e conotações sexuais desnecessárias, além das péssimas interpretações, A Terra Perdida devia mesmo era se chamar O Tempo Perdido. Graças a esse fiasco, algo que poderia acender a curiosidade da nova geração e proporcionar bons momentos aos fãs e saudosistas, vai deixar O Elo Perdido mais perdido ainda... no esquecimento!

»JUKEBOX: Este post foi escrito ao som do álbum de estréia da cantora australiana Natalie Imbruglia, datado de 1998 e entitulado Left Of The Middle. Nele aparece seu maior sucesso até hoje, Torn


»MAURICIOPÉDIA: A falta de talento atinge até mesmo os pôsteres do filme. Portanto, a imagem deste post corresponde a uma foto da série original - nela, Rick, Will e Holly Marshall, acompanhados do pakuni Cha-ka.«

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