terça-feira, 22 de dezembro de 2009

FELIZ NATAL

Queridos leitores e visitantes:

Desejo a todos um Feliz Natal! Que Papai Noel lhes traga muitos presentes e muitas alegrias. Que possamos vivenciar o espírito natalino além do consumismo, além da festa e além das decorações - e não me refiro somente ao sentido religioso, que bate mais forte em quem é cristão, mas também por estarmos em uma época de olhar mais para o lado, de ajudar ou dar uma atenção a quem esteja precisando, segurar uma mão, lançar um olhar carinhoso ou um sorriso, perdoar.
É época para se fazer o balanço do ano, refletir o que se fez, o que não se fez, o que se quer ou não fazer para o ano seguinte. É uma época de esquecimento ou planejamento. É também uma época de gratidão, de satisfação ou arrependimento pelos últimos 365 dias vividos. Então, é Natal (em uma menção à sempre confirmada música cantada pela cantora Simone).
Em uma semana praticamente sem estréias no cinema, com as séries nossas de cada dia em hiato até janeiro ou além e em meio a festividades, correrias de última hora e alguns assuntos importantes que tenho para resolver, o blog deve ficar parado por uns dias, mas assim que surgir assunto, cá estarei eu escrevendo, e muito satisfeito se tiver o privilégio de continuar a ser lido! Continuem ligados que eu ainda volto em 2009, nem que seja para fazer um balanço do que bombou por aqui nesta nova fase do blog...

Mauricio (Natal/2009).

domingo, 20 de dezembro de 2009

AVATAR

Inovador, impressionante, interessante, envolvente. Estes são alguns dos predicados de Avatar (Avatar, 2009), estréia deste final de semana e uma das grandes estréias do ano - senão a maior.
O diretor James Cameron, o mesmo de Titanic, Aliens - O Resgate e dos dois primeiros filmes da franquia O Exterminador Do Futuro, trabalhou 15 anos em cima do projeto de Avatar e atravessou a barreira dos 400 milhões de dólares em gastos de produção, quebrando um recorde que já era seu desde Titanic. Mas não nos prendamos somente em números e reputação, pois a fita merece crédito: contém uma história envolvente (embora com um certo ar clichê), roteiro coerente, drama, crítica e ação dosados na medida certa, sem contar o fator tecnológico de cair o queixo - desde o som até os efeitos especiais, tudo é perfeito nos mínimos detalhes, o que justifica a longa demora de produção, devido à espera de uma tecnologia propícia para a realização do projeto exatamente como o perfeccionista diretor queria.
A trama de Avatar transita entre dois mundos: o real e o virtual. O ano é 2154. A Terra está totalmente devastada devido à falta de recursos naturais. A humanidade ultrapassou as barreiras do universo e passa a colonizar e habitar novos planetas. A história se passa no planeta Pandora, onde um grupo formado por corporações, militares e cientistas explora um minério localizado no subsolo. Pandora é habitado por uma raça humanóide selvagem denominada Na'vi - uma espécie gigante azul com ares felinos, o maior empecilho para a exploração do tal minério. Para realizar a aproximação com o povo, cientistas criaram avatares da raça, espécies de clones concebidos através de criogenia e controlados mentalmente por seres humanos a eles conectados por um tipo de aparelho telepático. É aí que entra na história o soldado Jake Sully (Sam Worthington) - fuzileiro da reserva que perdeu os movimentos nas pernas e vê sua vida voltar ao normal através de seu avatar. Junto à nativa Neytiri (Zoe Saldana), Jake encontra um mundo fascinante de criaturas, aventuras e paisagens nunca antes imaginadas. E, como é de se esperar, ele não quer mais abandonar esse universo, voltando-se contra o grupo explorador em prol do povo Na'vi, desencadeando uma guerra sem precedentes. O elenco ainda conta com as participações de Sigourney Weaver, Michelle Rodriguez e Giovanni Ribisi.
Com o cenário estabelecido, a produção esbanja criatividade na composição dos seres que habitam Pandora, das florestas e das máquinas de guerra. O fator humano é o que menos conta em Avatar - o que realmente conta aqui é a aventura e o desfile de aparatos tecnológicos dos quais Cameron e sua equipe usam e abusam. Cameron revive ainda alguns momentos de Titanic: observe as cenas do envolvimento entre Jake e Neytiri, remetendo a Jack e Rose, observe a queda da grande casa da árvore, lembrando o momento em que o navio se parte ao meio, observe os momentos de mobilização do povo Na'vi para a guerra. Não é só o gordo orçamento que se repete aqui - há um padrão de roteiro, há um padrão de composição, tudo em suas devidas proporções. O diretor ainda aproveita o espaço para criticar o descaso da humanidade com o meio ambiente e vai além: observe a metáfora que envolve os militares, a exploração de riquezas e a destruição que a guerra causa a Pandora e pense nas semelhanças como nossos governantes e nas manobras políticas atuais.
Como filme, o entretenimento é total e o realismo que as salas de cinema 3-D oferecem proporcionam uma sensação maior ainda de identificação e envolvimento. O som é assustador, é realista, as imagens e as cores (em quase sua totalidade geradas em computador ou escaneadas digitalmente) são de uma vivacidade magnífica, que, somadas aos efeitos especiais, coroam Avatar com o status de filme mais impressionante até hoje já feito e que, com toda a certeza, servirá de referência técnica para muitos outros que virão na carona.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

COISAS DO MUNDO, MINHA NÊGA

O ônibus escolar estacionado na frente da escola, ao lado da pista de corrida na qual eu transitava. De passageiros, somente crianças de no máximo segunda ou terceira série. Em duas janelas consecutivas, dois meninos com a cabeça para fora. Um deles, do qual desconheço o nome, da janela mais à frente, dirige-se a uma coleguinha que estava fora do ônibus:
- Gabriela, o Henrique disse que transou com a Daphne.

Henrique, o menino na janela imediatamente atrás, retruca:
- É mentira! Cala a boca!

E o outro lhe devolve:
- Cala a boca já morreu - quem manda em minha boca sou eu!

"Transar"? "Cala a boca"? "Quem manda em minha boca sou eu"? Considerando as idades, essa é meramente mais uma deplorável amostragem da criação e da educação que essa molecada de hoje está recebendo...

Pais, educadores, adultos, onde estão vocês? Chinelo, sabão, vidro de pimenta, onde estão vocês? E não me tragam didática ou psicologia!

Coisas do mundo, minha nêga... Sinais de novos tempos ou sinais do fim dos tempos?


»MAURICIOPÉDIA: Coisas Do Mundo, Minha Nêga é uma canção composta e gravada pelo mestre do samba Paulinho Da Viola. Embora nada tenha a ver com o assunto abordado no post, o título é mais que cabível.«

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A PRINCESA E O SAPO

Após lançar Nem Que A Vaca Tussa (Home On The Range) em 2004, a Walt Disney Company decidiu que a partir de então só trabalharia com animações computadorizadas (produções próprias ou com a, na época mera parceira, Pixar) e abandonaria de vez a produção de desenhos animados para o cinema. Eis que por uma feliz revisão de conceitos, a poderosa empresa do Mickey Mouse resolveu voltar atrás e lançar A Princesa E O Sapo (The Princess And The Frog, 2009) - mais uma obra de animação nos moldes tradicionais de produção 2-D, incluindo os traços visuais característicos e os sempre presentes números musicais.
A história, a exemplo dos clássicos Disney, é totalmente inocente e direcionada exclusivamente ao público infantil. Nela, Tiana (voz de Anika Noni Rose) é uma moça de origem humilde, batalhadora e que sonha desde criança em ter seu próprio restaurante. Um dia, em um baile a fantasia na casa de sua amiga rica Charlotte (voz de Jennifer Cody), Tiana conhece um princípe chamado Naveen (voz do brasileiro Bruno Campos) e, por conta de uma trama maligna, Naveen é amaldiçoado por um feitiço vudu e transforma-se em sapo. Tiana, na tentativa de trazer o príncipe a sua forma normal, beija o sapo e... em vez de o sapo voltar a ser príncipe, a moça é que se transforma em sapo também. A partir daí tem-se uma série de aventuras pelo pântano, novas descobertas, o surgimento de novos amigos e um inevitável romance para garantir o final feliz.
A opção pelo formato de animação tradicional é um acerto para a produção, pois tem um belo toque de nostalgia dos clássicos e ainda remonta o universo hoje conhecido por Princesas Disney, incluindo a primeira princesa negra do grupo (sem considerar como negra a princesa Jasmim, dos desenhos do Alladin, que, na verdade, é de origem árabe). A escolha oportuna de New Orleans como palco do conto foi outro acerto, proporcionando belas paisagens para a história, que vão desde a elegantes casas e prédios da cidade até os sombrios pântanos e seus feiticeiros, passando pela alegria rítmica do jazz e dos personagens que enchem os cenários, em uma mistura de etnias e classes sociais nunca antes tratada em um longa metragem animado.
A Princesa E O Sapo é um belo desenho, divertido e cativante nas medidas certas. Na minha opinião, o único problema ficou por conta da dublagem, que prejudicou as canções, deixando-as, em sua maioria, sem graça. Fora esse detalhe, o desenho é um bom pretexto para levar as crianças ao cinema e voltar a ser criança junto com elas.

»JUKEBOX: Nossos Momentos, registro ao vivo do show de 1982 de Maria Bethânia«

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

LUA NOVA

A onda dos vampiros definitivamente voltou com tudo! Segundo volume da quadrilogia da escritora Stephenie Meyer, Lua Nova (New Moon, 2009) é a primeira das 3 continuações cinematográficas do estrondoso sucesso de 2008 Crepúsculo (Twilight). A agora entitulada "saga" narra o romance entre a mortal Bella (a insossa Kristen Stewart) e o vampiro Edward (Robert "queridinho-do-momento" Pattinson). Tanto a obra literária quanto a cinematográfica são meras atualizações de tudo o que já se disse até hoje sobre vampiros - a grande jogada da escritora foi encaixar a história no contexto adolescente, fisgando uma grande parcela de consumidores infanto-juvenis e, na carona, um grande número de adultos curiosos e fãs do gênero.
Lua Nova é tal e qual seu antecessor - a continuação segue a história no mesmo ponto em que parou, dando continuidade aos fatos já conhecidos e preparando o terreno para os dois volumes que ainda estão por vir. Neste segundo filme, o vampiro Edward sai de cena durante boa parte do tempo para o desenvolvimento do personagem Jake (Taylor Lautner) - e não é novidade para ninguém que Jake se transforma em lobisomem e é também o principal rival do vampiro na disputa pelo amor de Bella.
A trama é morna, desenvolve-se lentamente e se arrasta para além da metade do filme até que algo comece a acontecer. Em tempos do excelente True Blood, aqui o romance humana-vampiro não convence muito, principalmente tendo uma protagonista apática e seu par vampiresco um genérico de galã da Malhação em versão andrógena. Não vou dizer que a fita é ruim; para mim foi uma boa distração cinematográfica, mas nada que justifique o barulho todo que se faz em torno da franquia.
Tecnicamente a produção evoluiu. Embora a maquiagem continue tão ruim quanto em Crepúsculo (aquela plasta branca no rosto deles parece Minâncora), a equipe desta vez investiu mais e caprichou na montagem, na fotografia e nos efeitos especiais, principalmente nas cenas em que aparecem os lobisomens e em que as duas espécies de criaturas lutam entre si. Qualquer semelhança com Anjos Da Noite (Underworld) é pura coincidência, ok?
Ah, uma novidade bacana foi a entrada da personagem Jane, vivida por Dakota Fanning, agora uma mocinha de 15 anos. Vale para revê-la.

»JUKEBOX: Para matar saudades, a trilha do dia ficou por conta de Tim Maia Ao Vivo, registro histórico de 1992.«

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O TECO-TECO DAS DESESPERADAS

ATENÇÃO: Este post contém spoilers!
Anunciavam os spoilers desde o início desta 6ª temporada de Desperate Housewives: um avião iria cair em Wisteria Lane! Os rumores eram de que este seria o final da temporada e o gancho para a próxima, mas minhas suspeitas se confirmaram. A queda do avião foi a tragédia da metade da temporada, seguindo a previsível tradição de anos anteriores, como aconteceu no ano do furacão, no ano do sequestro do supermercado e no ano passado, com o incêndio da boate. O episódio foi ao ar nos Estados Unidos neste último domingo e se chamou Boom Crunch.
Sem se apegar aos acontecimentos paralelos, vamos direto ao avião... O acidente foi decepcionante do início ao fim. A introdução do início do episódio entregou quase toda a cena da queda e como ela ocorreu. O tal avião não passava de um teco-teco, uma aviãozinho de nada e, o pior de tudo é que, quando caiu, nada mais fez além de se arrastar com força pelo meio da rua, destruir a decoração do festival de Natal da vizinhança e supostamente ter matado um ou dois personagens, dos quais possivelmente nenhum muito importante. Nenhuma explosão. Nenhum fogo. Nenhuma destruição significativa. Puro alarde. Perto do furacão, as consequencias deste espisódio poderiam ser comparadas a uma mera brisa.
O episódio foi válido pelos demais acontecimentos, alguns importantes no desenrolar desta temporada. Fora isso, o avião só serviu para deixar uma dúvida sobre quem morreu ou não. Se as previsões dos comentários que li no site TV.com se confirmarem, as desesperadas estão entrando em um pequeno recesso de final de ano e só voltarão a dar as caras na telinha em meados de 2010, com as respostas para o acidente e para todas as outras perguntas da temporada. Aguardemos...

(500) DIAS COM ELA

Uma coisa boa no cinema, assim como na vida, são as surpresas: quanto menos se espera algo bom de alguma coisa, maiores são as chances de uma surpresa positiva. (500) Dias Com Ela ((500) Days Of Summer, 2009) definitivamente se encaixa nesta categoria.
Me explico: fui ao cinema com expectativa mínima, esperando ver um filmezinho meloso sobre um cara e uma garota que se conhecem, ficam juntos por 500 dias e ele resolve relembrar todos os momentos pelos quais passaram - de uma forma resumida, esta é realmente a sinopse. Enfim, motivado pelo convite de colegas do trabalho e pelo generoso preço do ingresso a R$ 4,00 em pleno sábado (leia o rodapé do post), fui conferir e posso dizer que saí bem satisfeito.
A história se revelou divertida, irônica e engraçada, sem baixar o nível ou cair no besteirol - um humor quase adolescente e inteligente. Joseph Gordon-Levitt, egresso das séries de TV dos anos 90 é Tom Hansen, um escritor de cartões (como esses de Natal ou aniversário) que acredita no amor e é afixionado pela idéia de que existe uma única pessoa perfeita para ele - e então ele conhece a irreverente Summer Finn (Zooey Deschanel, carismática, bonita na medida e perfeita no papel, com expressões e trejeitos que dão brilho extra à personagem), totalmente seu oposto, que vira seu mundo e suas emoções de pernas pro ar.
O formato flashback funciona bem e não atrapalha o andamento da história, distingue nitidamente as emoções através dos dias bons (com sol) e dos ruins (com nuvens). A narração é imparcial e divide o espectador, uma hora fazendo-o execrar a indiferença e o descaso de Summer, outra hora fazendo-o se irritar com a persistência e as tolas ilusões do confuso Tom.
O diretor de clipes Marc Webb, quem tem Green Day e 3 Doors Down em seu currículo, aproveitou bem a simples premissa e transformou-a em um filme dinâmico e bem divertido. Trata-se de uma comédia romântica com muito mais ênfase na comédia, regada a pitadas de sofrimentos e descobertas pessoais. Eu recomendo!

»JUKEBOX: A trilha sonora do post foi Hard Candy, da Madonna, lançado no ano passado - um dos álbuns mais fraquinhos da carreira da loira.«


»MAURICIOPÉDIA: No Cinemark Bourbon Ipiranga (Porto Alegre) e no Cinemark Canoas (Canoas) rola uma promoção de ingressos a R$ 4,00 - toda semana um filme é escolhido para dar o desconto e, da sexta até a quinta da semana seguinte há uma sessão do filme às 15h00 (sempre e somente esta sessão), custando a bagatela já mencionada. Quem tem carteirinha de estudante paga R$ 2,00.«

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

ABRAÇOS PARTIDOS

Em seu mais recente filme, Pedro Almodóvar dá alguns tropeços e produz uma obra inferior a tudo que havia feito nos últimos anos. Seria covardia aproximar Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos, 2009) de qualquer outra história contada pelo diretor espanhol nesta década.
A trama central: Lena (Penélope Cruz, em mais uma boa parceria com o diretor), mulher de origem humilde, mantém um caso com seu patrão, um velho rico e influente. Torna-se atriz, consegue o papel principal em um filme e envolve-se emocionalmente com o diretor (Lluís Homar). A partir daí, uma sucessão de perseguições, humilhações e tragédias atingem a todos os personagens, no pior estilo novela mexicana. O drama e a amargura fagulham pela tela de forma que não seria surpresa alguma se o vilão amarrasse a mocinha nos trilhos do trem no final - o que, felizmente, não se fez necessário. Os momentos dramáticos não empolgam o suficiente e a fita soa como uma piada fraca em que a pouca graça aparece oculta nos detalhes do percurso. Os atores estão afinadíssimos, a ambientação no tempo e no espaço é perfeita, mas não há como operar milagre em história ruim.
O resultado final desta química fica pendendo na fronteira entre o bom e o razoável. Abraços Partidos não passaria de uma história patética, não fosse a assinatura de Almodóvar na produção: as cores vivas, a sutileza para realçar pequenos detalhes, as boas histórias contadas em segundo plano, os coadjuvantes interessantes (preste atenção no personagem Judit, vivido grandiosamente por Blanca Portillo), o humor característico do diretor e a boa construção verbal do filme são as únicas garantias da sobrevivência do dramalhão no decorrer de seus 128 minutos.

»JUKEBOX: Este post foi simultaneamente escrito com a primeira audição do novo álbum de Daniela Mercury, entitulado Canibália

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

IN(DIG)NAÇÃO

É indiscutível! O futebol é o esporte nacional, o ópio de uma grande parcela do povo, a única alegria de muita gente, a razão de viver de alguns, o ganha-pão de uns poucos privilegiados - no Brasil respira-se futebol e é difícil ficar indiferente a isso. Eu não gosto. Repito: eu não gosto, mas respeito, afinal, antes de qualquer outra coisa, futebol é esporte, é saúde, é educação, é profissão, é brincadeira, é competição, é dignidade. Ou era para ser?
O trechinho de Jornal Nacional que assisti no dia de hoje foi o suficiente para me motivar a escrever este tanto sobre o lamentável incidente, se é que assim pode-se chamar aquela barbárie, que ocorreu no Estádio Couto Pereira (Curitiba/PR) neste último domingo, após o empate de 1 a 1 do Coritiba, o time da casa, com o Fluminense, acarretando no rebaixamento do time paranaense para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro.
Desde a senhora que voltava do trabalho em um ônibus que foi cercado por torcedores (ou melhor, terroristas) e que teve arrancados 3 dedos de sua mão na explosão de uma bomba, ao rapaz que levou um tiro na cabeça de um torcedor (leia-se bandido) dentro do próprio estádio, passando pelo árbitro da partida que foi agredido e o soldado da PM que foi atingido por um banco em pleno gramado, durante o cumprimento dever, o quebra-quebra mandou algumas dezenas de pessoas para o hospital, pouquíssimas para a cadeia e foi notícia no país inteiro, talvez até maior do que a conquista da vitória do campeonato pelo Flamengo.
O que pode pensar de um episódio desses? Como não se indignar, e... como não se envergonhar?
Eu não sou torcedor, acompanho futebol em terceiro ou quarto plano, nunca vou a jogos, mas temo pelo que acontece nos estádios. Das pequenas confusões às mobilizações de torcidas, a violência que se vê com frequencia não só é uma mancha no esporte, mas também um braço da criminalidade e da brutalidade que consomem nossas ruas. Bandidos, vândalos e assassinos na pele de torcedores encontram justificativas na devoção por um time para desencadear tragédias e ainda acham que está tudo bem. Conheço pessoas que adoram futebol mas nunca frequentam estádios por medo do que pode acontecer - um medo de suas próprias torcidas onde, para a casa cair, basta uma cerveja a mais, basta uma piada mal digerida, basta um empate do time. Ninguém está livre no Brasil. Como já disse no início, aqui respira-se futebol - mas já sufoca-se com tanta violência e ignorância.
Paz.
»MAURICIOPÉDIA: In(Dig)Nação, a canção cujo título emprestou-se para encabeçar este post, é de autoria de Samuel Rosa e Chico Amaral e foi sucesso no primeiro CD do Skank, lançado em 1993. O CD também foi a trilha sonora do dia.«

MARIA BETHÂNIA - AMOR, FESTA, DEVOÇÃO

Para divulgar seus mais novos discos, Tua e Encanteria, Maria Bethânia viaja o país com sua turnê Amor, Festa, Devoção - no título, os ingredientes principais da dobradinha produzida em estúdio. No último dia 03 de dezembro foi a vez de conferirmos aqui em Porto Alegre a apresentação.
No repertório, aparecem em maioria as novas canções: o romantismo de Tua misturado com a celebração e a devoção religiosa que formam Encanteria. A cantora relembra canções de seus discos setentistas, como o sucesso Explode Coração (Luiz Gonzaga Jr.) e a pouco conhecida Bom Dia (Herivelto Martins / Aldo Cabral), além de resgatar Vida de Chico Buarque e a inexplicável É O Amor de Zezé Di Camargo, com direito a esquecimento da letra, seguido de uma mea culpa merecidamente aplaudida. O irmão Caetano Veloso, embora cada vez mais ausente como compositor nos últimos álbuns da cantora, aparece com a cortante Drama, as até então inéditas na voz de Bethânia Queixa e Dama Do Cassino; depois Não Identificado, para prestar homenagem ao patriarca e à matriarca da família Telles Veloso, respectivamente Seu Zeca e Dona Canô. Das novidades, merece destaque a bela Balada De Gisberta (Pedro Abrunhosa), um dos melhores momentos do show.
Bethânia se entrega por completo ao palco e às canções. Sente o amor e a saudade, eleva-se em oração nos momentos de evocar a fé e os santos, demonstra o sentimento, solta a poesia. A intérpetre, na flor de seus 63 anos, traz uma forte carga dramática em suas feições, evidencia o peso dos anos no rosto e na expressão - às vezes meio cansada, às vezes meio distraída -, aparenta uma certa amargura, uma certa indiferença. A dama leva a platéia ao delírio, comove e enche a casa com sua linda voz, com seu semblante de artista e sua bela seleção de canções.
Tecnicamente o show é impecável, desde a bela cenografia até a harmônica banda comandada pelo habilidoso maestro Jaime Além, desta vez composta pela pequena soma de 6 músicos. Derrapadas da diva à parte (mencionando a grosseria de esnobar os fãs e atender somente meia dúzia deles no camarim após a apresentação, mandando o resto embora), pode-se dizer que uniu-se mais uma vez a técnica com o bom gosto e a competência de Maria Bethânia e foi mostrado um excelente show do início ao fim, abençoado por uma salva de palmas dos gaúchos.

»JUKEBOX: Este post foi escrito enquanto passava na TV o show Live At Black Island Studios, da banda Oasis«


»MAURICIOPÉDIA: Post originalmente escrito em 05 de dezembro, revisado e formatado em 07 de dezembro.«