terça-feira, 3 de novembro de 2009

ALÔ, ALÔ, TEREZINHA

O documentário Alô, Alô, Terezinha, estréia deste último final de semana, tem por premissa mostrar um pouco da vida daquele que é considerado um dos maiores comunicadores brasileiros de todos os tempos, Abelardo Barbosa, conhecido popularmente como Chacrinha.
Falecido em 1988, aos 72 anos, Chacrinha ficou marcado na memória nacional como apresentador de programas musicais e de calouros. Com um jeito pitoresco de se vestir, de se comunicar com as massas e de tratar seus convidados, o também chamado Velho Guerreiro deixou bordões inesquecíveis, popularizou marchinhas de carnaval, lançou calouros e fez a fama de muitos artistas, dos quais boa parte está até hoje na ativa.
Do filme roteirizado e dirigido pelo jornalista, produtor e diretor de televisão Nelson Hoineff esperava-se um apanhado que contasse a trajetória do homem, do artista e do comunicador, mas não é bem assim que o carro anda... Formado basicamente por depoimentos e entrevistas com artistas e pessoas próximas do Velho Guerreiro, Alô, Alô, Terezinha não mostra mais que uma pequena ponta da faceta do apresentador Chacrinha e passa a maior parte de seus 90 minutos brincando de "Por Onde Anda Você?" com cantores (muitos deles já esquecidos pela mídia), ex-calouros e as famosas ex-dançarinas de seus programas, as Chacretes, muitas delas em situações de vida difíceis.
Egresso da TV, o diretor teve em sua carreira programas veiculados em diversas emissoras, alguns de gosto duvidoso, nos quais a prioridade era chocar o espectador - torna-se fácil a dedução de porquê seu filme de estréia no cinema tomou o rumo que tomou...
Em termos de resgate da memória de Chacrinha, o documentário deixa muito a desejar. É interessante pela nostalgia, por algumas curiosidades mostradas e pela temática musical. Dispensável pelo teor de humor negro ao qual o diretor covardemente submete muitos de seus entrevistados: cenas constrangedoras como a filmagem de uma parede danificada na casa do cantor Wanderley Cardoso, a invasão e exposição de cultos religiosos, um duelo de leitura de versos entre ex-calouros gagos e uma ex-chacrete caidaça dançando nua com adereços de índia dentro de um chafariz público são apenas algumas das apelações que o senhor Nelson Hoineff deveria ter pensado duas vezes antes de incluir na fita.
Como nem tudo são rosas, aqui nem tudo são espinhos: há também boas oportunidades para se matar saudades de uma época, visitar artistas sumidos e se deliciar com depoimentos interessantes, como os do rei Roberto Carlos e de um desaforado Aguinaldo Timóteo descendo a lenha em João Gilberto. Mais que isso: por menos material que tenha sido mostrado, é uma boa chance para rever bons momentos daquele apresentador que por muito ainda será lembrado quando alguém buzinar um calouro, oferecer-lhe um troféu abacaxi ou mandar um "alô" para a Terezinha.

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