terça-feira, 11 de outubro de 2011

CINEMA: UM CONTO CHINÊS

Falar mal de argentino é quase tão típico de brasileiro quanto fazer piadas de português. Seja lá qual for o motivo, excetuando-se a rivalidade no futebol - a qual pouco me lixo - vejo que temos muito mais motivos para prestigiar os "hermanos" do que para avacalhá-los. Um deles é o seu cinema, cada vez mais interessante. Não que não tenhamos aqui no Brasil produções de qualidade excepcional e grandes sucessos de bilheteria, mas nos últimos anos muito tem-se falado (e geralmente bem) de produções advindas do país aqui do lado. Na onda de bons filmes portenhos vem Um Conto Chinês (Un Cuento Chino, 2011), que já está há algumas semanas em cartaz e tem sido sucesso de público e de crítica na base do boca-a-boca.
Fato que parte deste sucesso se deve à presença no elenco de Ricardo Darín (de O Segredo Dos Seus Olhos e O Filho Da Noiva, entre outros), possivelmente o ator mais importante do país na atualidade. Darín vive o protagonista Roberto, um solitário, solteirão e muito mal-humorado dono de ferragem de bairro que um dia socorre o recém-chegado chinês Jun (Ignacio Huang) de um ataque de ladrões. Sem nenhuma ideia de o que fazer, Roberto abriga o imigrante em sua casa, estabelecendo ali o fio condutor deste belo conto.
O mau humor do protagonista, as atrapalhadas do chinês e as situações difíceis de comunicação entre os dois são responsáveis por algumas das risadas da plateia, mas o filme vai muito além da comédia: as relações humanas, o surgimento da amizade, a dificuldade de adaptação ao novo e a instabilidade emocional do indivíduo são temas sutilmente pincelados que injetam vida à trama e fazem dela uma excelente lição de convívio, sem vocação alguma para o dramalhão. Tecnicamente o filme é simples, mas muito competente - nota-se que o esmero da produção está focado no desenrolar da história e de seus personagens pitorescos, que incluem ainda a prestativa pretendente de Roberto, Mari (Muriel Santa Ana). Dirigido por Sebastián Borensztein, egresso da TV, este conto chinês diverte, emociona e envolve, trata de forma carinhosa do choque cultural entre ocidente e oriente sem jamais cair no mau gosto ou no campo dos estereótipos para arrancar risadas fáceis do público, brinca com o surreal sem exagerar na dose (incluindo uma vaca que cai do céu), embora traga um pouco de instabilidade à narrativa, mas sem comprometer o resultado e é disparado uma das melhores opções em cartaz do momento.