terça-feira, 8 de dezembro de 2009

ABRAÇOS PARTIDOS

Em seu mais recente filme, Pedro Almodóvar dá alguns tropeços e produz uma obra inferior a tudo que havia feito nos últimos anos. Seria covardia aproximar Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos, 2009) de qualquer outra história contada pelo diretor espanhol nesta década.
A trama central: Lena (Penélope Cruz, em mais uma boa parceria com o diretor), mulher de origem humilde, mantém um caso com seu patrão, um velho rico e influente. Torna-se atriz, consegue o papel principal em um filme e envolve-se emocionalmente com o diretor (Lluís Homar). A partir daí, uma sucessão de perseguições, humilhações e tragédias atingem a todos os personagens, no pior estilo novela mexicana. O drama e a amargura fagulham pela tela de forma que não seria surpresa alguma se o vilão amarrasse a mocinha nos trilhos do trem no final - o que, felizmente, não se fez necessário. Os momentos dramáticos não empolgam o suficiente e a fita soa como uma piada fraca em que a pouca graça aparece oculta nos detalhes do percurso. Os atores estão afinadíssimos, a ambientação no tempo e no espaço é perfeita, mas não há como operar milagre em história ruim.
O resultado final desta química fica pendendo na fronteira entre o bom e o razoável. Abraços Partidos não passaria de uma história patética, não fosse a assinatura de Almodóvar na produção: as cores vivas, a sutileza para realçar pequenos detalhes, as boas histórias contadas em segundo plano, os coadjuvantes interessantes (preste atenção no personagem Judit, vivido grandiosamente por Blanca Portillo), o humor característico do diretor e a boa construção verbal do filme são as únicas garantias da sobrevivência do dramalhão no decorrer de seus 128 minutos.

»JUKEBOX: Este post foi simultaneamente escrito com a primeira audição do novo álbum de Daniela Mercury, entitulado Canibália

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