terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

UM OLHAR DO PARAÍSO

Antes da triologia O Senhor Dos Anéis, Peter Jackson era praticamente um desconhecido no circuito hollywoodiano. Quase 10 anos após o lançamento de A Sociedade Do Anel, o diretor neozelandês, também roteiritsa e produtor, é hoje um dos nomes mais cotados do cinema contemporâneo. É dele também a direção da refilmagem titaniquesca de King Kong (2005) e do recente Um Olhar Do Paraíso (The Lovely Bones, 2009), baseado na elogiadíssima obra literária de mesmo título, lançada em 2002 por Alice Sebold.
Além da competência na direção, Jackson tem feito fama por suas boas escolhas e pelas boas equipes que compõe a cada produção, garantindo sucesso e qualidade às obras - pode-se dizer que em Um Olhar Do Paraíso isso não é diferente: embora o filme não obtenha um mérito grandioso de excelência, a soma de trabalho no roteiro, na produção e no desempenho do elenco garantem um resultado bastante satisfatório e proporcionam alguns momentos de beleza e leve envolvimento ao contar a história de Susie Salmon (Saoirse Ronan, em ótima atuação), uma menina de 14 anos brutalmente assassinada, cujo espírito fica preso em um lugar entre o céu e a Terra, ansiando por justiça e pelo fechamento de eventos que não conseguiu cumprir em vida.
A trama belisca em assuntos que envolvem a condição do espírito e a questão da vida e da morte, sem defender nenhuma frente ou provocar polêmicas - na verdade, o fator é muito mais espiritual do que religioso, representado belamente (e às vezes até de forma meio confusa) por imagens e metáforas que se apresentam para Susie durante seu período neste "meio do caminho". Abre-se espaço para o suspense e a ação no arco que envolve o assassino de Susie, o vizinho e psicopata George Harvey (Stanley Tucci, amedrontador e quase irreconhecível). Há ainda um alívio cômico garantido por Susan Sarandon, muito bem situada no papel de avó e, por fim, há toda a comoção familiar, de onde saem bons momentos dramáticos protagonizados pelos pais da menina, interpretados por Rachel Weisz e Mark Wahlberg (milagrosamente despido da canastrice habitual).
Com uma certa arrastação e alguns contratempos de história desnecessários que nos remetem a Ghost e outras clicherias de filmes com espíritos, inclusive os de terror, a fita tem um desfecho coerente e consegue emocionar contidamente a platéia, o que já é um mérito, quando se tem uma história que, em mãos erradas, poderia virar um dramalhão sem precedentes e pôr tudo a perder. Trata-se de um trabalho realizado com capricho, com arestas aparadas e com o bom gosto pelo qual Peter Jackson se orgulha de ser reconhecido.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

PERCY JACKSON E O LADRÃO DE RAIOS

É difícil assistir Percy Jackson E O Ladrão de Raios (Percy Jackson & the Olympians: The Lightning Thief, 2010) e não sair com a impressão de que o filme é um plágio descarado de tudo que já foi feito em Hollywood para o público infanto-juvenil.
Baseada no livro homônimo de Rick Riordan, a história gira em torno de Percy Jackson (Logan Lerman), um garoto que descobre ter poderes especiais por ser filho de Poseidon (Kevin McKidd) - o deus do Olimpo que rege os mares - e que, mesmo sem saber, foi acusado pelos deuses por ter roubado o raio de Zeus (Sean Bean), fato que promete desencadear em uma guerra cujo campo de batalha será a Terra. Acompanhado da bela guerreira Annabeth (Alexandra Daddario) - filha da deusa Atena (Melina Kanakaredes) - e de seu protetor, o sátiro (metade homem, metade bode) Grover (Brandon T. Jackson), Percy embarca em uma aventura através dos Estados Unidos que os leva desde um jardim de estátuas habitado pela perigosa Medusa (Uma Thurman, em uma ponta impagável) até as profundezas do inferno, comandadas por Hades (Steve Coogan) e sua voluptuosa esposa Perséfone (Rosario Dawson), para enfim confrontar o verdadeiro ladrão de raios e tentar restituir a paz entre os superiores do Olimpo. O elenco conta ainda com a participação do ex-007 Pierce Brosnan e Catherine Keener como mãe de Percy, em um look riponga vergonhoso.
O filme, embora com um certo esforço, até que é divertido - verdade seja dita: os efeitos especiais, a abundância de ação e certas cenas que fogem do universo infantil para um patamar mais adulto (como a ambientação do inferno, por exemplo) contribuem mais para o desenvolvimento da fita do que a trama por si só. As referências à mitologia grega surgem a todo instante, e isso se torna um pouco chato, pois há tentativas de encaixá-las em lugares incabíveis, tornando a história toda boba demais. A mão de Chris Columbus na direção torna evidente a comparação com a série de filmes Harry Potter, uma vez que o diretor foi o condutor dos dois primeiros longas do bruxinho - a essência da história e a narrativa se assemelham muito em certas partes, onde o universo de J. K. Rowling ainda leva a melhor na disputa. Não é preciso muito esforço para encontrar diversas referências também às Crônicas De Nárnia, O Senhor Dos Anéis e filmes antigos que referenciam a mitologia, como Fúria de Titãs (que, por sinal, ganhou refilmagem a ser lançada ainda este ano). O fato é que é difícil encontrar originalidade absoluta em um mercado saturado de ideias e com uma sede infindável por inovação, mas em Percy Jackson há abusos excessivos de releitura, parafraseamento, referências e homenagens. Pensei em ler o livro mais adiante, mas tenho receio de descobrir que no papel acontece a mesma coisa - e, para essa constatação, será preciso bem mais que as 2 horas de duração da versão cinematográfica.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

O LOBISOMEM

O Lobisomem (Wolfman, 2010) é, antes de mais nada, uma homenagem ao terror clássico. Refilmagem da fita de 1941, a nova versão revive, agora em forma de superprodução, o período denominado "A Era de Ouro da Universal", em que o estúdio emplacou grandes sucessos do gênero terror, em sua maioria envolvendo criaturas sinistras, como lobisomens, vampiros, monstros do pântano e até o próprio Frankenstein.
Com Benicio Del Toro na pele de Lawrence Talbot, um ator teatral que acaba por ser mordido por uma criatura noturna que ataca pessoas, o filme, que conta ainda com os nomes de Anthony Hopkins, Emily Blunt e Hugo Weaving no elenco, é pura referência aos filmes antigos de terror - desde o enquadramento até a fotografia, a trilha sonora e a forma com que as cenas mais fortes assustam de súbito. A melhor maneira de encará-lo é como uma obra retrô, com todo o clima trash, a construção da história lenta e crescente e até com um quê de inocência no terror empregado. Querer compará-lo com as obras de terror moderno, a maioria descartáveis, torna-se complicado, uma vez que o único fator em comum é a própria intenção de assustar. O Lobisomem leva-se a sério enquanto história, mas é descompromissado com a realidade e com os aparatos do cinema moderno, sem medo de mostrar criaturas com aparências toscas e de passar uma mensagem de que aquilo tudo de fato parece real.
A ambientação na Inglaterra do século XIX e a opção por um trabalho fotográfico escuro e enevoado dão um clima de antigo à fita, e provavelmente essa seja mesmo a ideia. O diretor Joe Johnston (de The Rocketeer, Jumanji e Jurassic Park III) captou com eficiência a essência da história e consegue um resultado satisfatório para este remake, proporcionando à platéia uma experiência de túnel do tempo, onde volta-se a apreciar o cinema clássico e instigante dos anos 40, porém, agora, com o toque de requinte das superproduções e da tecnologia disponíveis para nossos tempos.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O FANTÁSTICO SR. RAPOSO

Ao contrário das animações para crianças com animaizinhos que estamos acostumados a assistir, produzidas por grandes estúdios como a Dreamworks e a Pixar, O Fantástico Sr. Raposo (Fantastic Mr. Fox, 2009), filme mais recente de Wes Anderson (diretor de Viagem A Darjeeling e Os Excêntricos Tenenbaums), mostra que, embora engraçadinhos e com comportamentos semelhantes aos nossos, na essência os animais são sempre selvagens e, nada mais representativo para isso do que a figura ladina e feroz da raposa.
Dublado por George Clooney, Sr. Raposo (ou Mr. Fox) é um colunista de jornal, no passado um ladrão de aves que teve de entrar nos eixos com o nascimento de seu filho Ash (voz de Jason Schwartzman) e o casamento com a devotada Sra. Raposa (voz de Meryl Streep). Sr. Raposo tem muitas motivações, das quais a principal é não morrer pobre em uma toca, o que o leva a comprar uma elegante casa na árvore, vizinha de 3 grandes fazendas produtoras de frango, ganso e cidra. Bem diz o ditado que "a raposa perde o pelo mas não perde o vício", e não leva muito até que o pai de família volte às raízes, bolando planos de invasão às fazendas para satisfazer sua sede pelo roubo, pela bebida e pela carne fresca. A revolta dos fazendeiros contra os golpes da raposa que desencadeia em uma perseguição massiva à família e, consequentemente, aos demais animais da região, é o fio condutor da história, baseada no livro do falecido escritor inglês Roald Dahl.
Produzido com a técnica de stop motion com bonecos, o filme é o primeiro trabalho do diretor neste feitio, que tende a conduzir filmes geralmente diferentes, onde O Fantástico Sr. Raposo não é exceção. A distribuição exclusiva de cópias legendadas nos cinemas é a principal evidência de que, embora com aspecto inocente, a fita não é para crianças. Em essência, são tratados, com muito bom humor, três elementos básicos: prole, instinto e sobrevivência - casualmente os elementos mais primitivos na existência de todos os seres vivos. Personagens pitorescos, diálogos estranhos e acrobacias divertidas complementam as peripécias das raposas, gambás, texugos, coelhos e outros animais. O recurso de animação, tecnicamente regular perante o deslumbre das grandes produções de animação atuais, está presente muito mais para ilustrar o conto e divertir do que para impressionar - Sr. Raposo é uma das raras exceções no mundo da animação onde a narrativa se sobrepõe ao visual e, embora o filme não seja mais que "bom", o resultado é interessante.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

HEROES - SEASON 4 FINALE

Na última segunda-feira (08/02), a rede de TV americana NBC levou ao ar o episódio final da 4ª temporada de Heroes, uma das séries mais polêmicas da atualidade. Polêmica não pelo conteúdo, mas pela discussão que tem provocado entre os fãs, grande parte decepcionados com a constante derrocada de qualidade do programa. Os evidentes problemas que a série tem enfrentado junto ao público já vêm desde a temporada anterior, com quedas na audiência, críticas negativas e o próprio interesse da emissora, que nesta fall season concedeu menos episódios à série (somente 19) e terminou por encerrar a temporada 3 meses antes do normal.
Esta última temporada teve pequenas melhorias em relação às 2 anteriores: podem se considerar positivos a redução de personagens novos com importância significativa, a redução das viagens no tempo e o fechamento de arcos desinteressantes sobre os quais os roteiristas ainda insistiam. Nesta temporada ainda houve espaço para a resolução de algumas turbulências de percurso, como a retirada definitiva do personagem Nathan Petrelli (Adrian Passdar), a cura do tumor cerebral de Hiro Nakamura (Masi Oka) e a resolução do seu romance platônico e desnecessário com a garçonete Charlie (Jayma Mays). A entrada providencial do personagem Samuel Sullivan (Robert Knepper) também ajudou a tornar a série um pouco mais interessante neste ano.
Por outro lado, a série continua com sérios problemas "pendurados", que são heranças das ruins 2ª e 3ª temporadas. Alguns personagens estão perdidos na história, sem função ou motivação, aparecendo pouco e desempenhando papel quase que nenhum na trama - dois bons exemplos disso são Tracy (Ali Larter) e Angela Petrelli (Cristine Rose). Sylar (Zachary Quinto) há muito tornou-se um elefante branco na série, sem haver um jeito de eliminá-lo, e a solução dos roteiristas terminou por ser infeliz, transformando o vilão invencível em mocinho no final desta 4ª temporada. Noah Bennet (Jack Coleman) é mais um em cima do muro, com motivações que mudam de lado a todo instante e não dão um rumo ao personagem. E estes são apenas alguns exemplos...
Com a promessa de um Admirável Mundo Novo (Brave New World), o título do episódio final da temporada e também do próximo volume da série (se sair a esperada renovação que ainda não foi concedida pela NBC), pode vir uma última chance da saga de heróis se redimir com o público e com a audiência, garantindo-lhe uma sobrevivência maior do que a expectativa atual. Pelo que se ouve e se lê por aí, são necessários diversos ajustes na série, como a instituição de um foco/motivação únicos para cada personagem, a eliminação de alguns excedentes de arcos e personagens que não se fazem mais necessários e o retorno da expectativa por um evento importante - de preferência uma grande catástrofe -, sem contar o aumento dos duelos e das cenas de ação cheias de efeitos, que têm deixado a desejar e seriam o mínimo a se esperar de uma série como Heroes.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

GUERRA AO TERROR

Da diretora Kathryn Bigelow, Guerra Ao Terror (The Hurt Locker, 2008) é um dos mais fortes candidatos ao Oscar 2010, batendo de frente com seu ex-marido, o também diretor James Cameron, e seu Avatar, ambos com 9 indicações às estatuetas.
Indicado, entre outras categorias, para melhor direção, melhor roteiro original e melhor filme, Guerra Ao Terror narra a rotina de combatentes norte-americanos na infindável Guerra do Iraque, em uma divisão anti-terrorismo especializada no desarmamento de bombas. O filme se sobressai aos filmes de guerra produzidos nos últimos anos, sobretudo ao fugir do heroísmo incondcional do exército estadunidense e da instituição de uma tirania inimiga - a sensibilidade da diretora ignorou as já cansativas manobras políticas de guerra e acrescentou humanidade à trama. Não há uma tentativa de reflexão sobre as causas o conflito. Há, sim, uma demonstração do horror e da destruição causados no país - na paisagem e na população -, da pressão sobre os soldados, da gravidade do seu ofício e do impacto que isso causa em suas mentes. Uma frase mais que conveniente abre a primeira cena da fita: "A guerra é uma droga" - vicia, alucina, mata...
No elenco, o indicado Jeremy Renner interpreta o soldado William James, um desarmador de bombas destemido, que quebra protocolos e se arrisca pessoalmente nas situações de perigo extremo. Junto a ele, atuam diretamente o sério Sargento JT Sanborn (Anthony Mackie) e o atormentado novato Owen Eldridge (Brian Geraghty). Com pontas de Guy Pearce, David Morse, Ralph Fiennes e Evangeline Lilly (a Kate de Lost), a história é exclusivamente focada nas missões da unidade e no perigo envolvido - a tensão que sai da tela prende o expectador à poltrona do início ao fim, com pouco espaço para respirar.
Até então pouco falado no circuito internacional, o filme chamou a atenção de sindicatos e críticos, colocando-o no centro das grandes premiações deste ano e elevando-o a um patamar de reconhecimento merecido. Trata-se de um filme muito bem feito, escrito e dirigido. Sem levantar bandeiras, sua mensagem é sutil e muito mais assustadora quando se lê nas entrelinhas das imagens, das cidades em ruínas, do povo oprimido, do chão sem verde e das atitudes de homens comuns que se tornam soldados da noite para o dia, entregam-se de corpo e alma e parecem não ter mais nada a perder.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

SHOW CRANBERRIES

Direto da Irlanda, o quarteto formado por Dolores O'Riordan (vocal), Noel Hogan (guitarra), Mike Hogan (baixo) e Fergal Lawler (bateria) foi novamente reunido e aportou em Porto Alegre neste 03 de fevereiro de 2010, matando uma espera de 17 anos por um show do Cranberries, uma das maiores bandas dos anos 90, na cidade.
É a primeira apresentação da banda por aqui - Dolores já estivera em 2007, fazendo show de seu primeiro álbum solo. Pode-se dizer que, para quem é fã da banda, foi uma noite memorável: a banda estava com todo o gás e o repertório contemplou todos os grandes hits do Cranberries, combinados com outras canções não tão famosas, mas queridas dos fãs, além de 3 canções dos 2 trabalhos solo de Dolores.
Os irlandeses, como eles mesmos afirmaram, se impressionaram mesmo foi com o calor - do ginásio e da platéia, o que levou a vocalista a jogar água no público durante diversos momentos do show, para delírio geral. Nem mesmo a infra-estrutura precária e preguiçosa do Pepsi On Stage (na minha opinião, o pior lugar para se fazer um show em Porto Alegre), sem telões laterais, sem ar condicionado e de acústica duvidosa, detiveram o público, que vibrou, aplaudiu e cantou junto em praticamente todas as canções da banda. Dolores deu um show de simpatia e irreverência em seu vestidinho prateado curto, tocando violão, guitarra, gesticulando muito, se misturando à platéia durante Ode To My Family e soltando sua voz angelical com toda a potência que tem.
No set list nenhuma grande novidade. A banda entrou com meia hora de atraso e abriu o show com How, do primeiro disco, seguido de Animal Instinct e Linger, seu maior hit até hoje. Dois momentos que merecem também destaque foram as execuções de Zombie, onde um côro uníssono tomou conta do ginásio, e de Salvation, onde a banda colocou todo mundo para pular junto com o refrão fácil e conhecido de todos. No bis, mais 4 canções para contentar os mais de 5 mil pidões, que terminou com Promises e Dreams. Entre outras faixas, desfilaram ainda no palco Ridiculous Thoughts, When You're Gone, Dreaming My Dreams e a calminha Pretty. No saldo: muito suor e contentamento. Não houve calor e dificuldade de acesso que pudessem ter estragado o espetáculo de 100 minutos - a concretização de uma expectativa de 17 anos, um momento feliz daqueles que vão ficar na saudade.

LOST - A TEMPORADA FINAL

ATENÇÃO: Este post contém spoilers!
Concretiza-se finalmente a espera de meses e inicia-se aquela que promete ser a última temporada de uma das séries de TV mais assistidas e comentadas dos últimos anos. A fama de Lost já foi muito além da ilha misteriosa onde encontram-se os sobreviventes do vôo Oceanic 815 e a série é reconhecida até mesmo por quem não a assiste. As perguntas continuam aflorando nas rodas de conversa, junto de teorias, explicações mirabolantes e reclamações por tanta morosidade no andar da trama e falta de respostas. E, pasmem, até para quem esperava que as respostas começariam a ser dadas, o remédio será esperar mais um pouco...
Sim, no episódio duplo que abriu a temporada, L.A. X, respostas é o que menos se tem. Em compensação, o número de perguntas e fatos absurdos continua a crescer. Primeiro, ficou no ar a história paralela do vôo Oceanic 815 chegando intacto em Los Angeles, dando novo rumo aos destinos dos personagens - o que aquilo significa ainda é uma incógnita. Na ilha, de volta ao presente, foi difícil engolir aquele enorme templo dos seguidores de Jacob (Mark Pellegrino) no meio da floresta, encontrado somente agora, sem ninguém saber de sua existência até então. Mais difícil ainda foi digerir o novo vilão que surgiu, agora escondido no corpo de Locke (Terry O'Quinn), com direito, inclusive, a transformações em fumaça preta.
No elenco, poucas alterações. Foi interessante acompanhar os créditos iniciais e perceber que terão mais destaque na série os personagens Ilana (Zuleikha Robinson) e Richard Alpert (Nestor Carbonell), além do retorno do nome de Emilie de Ravin, a desaparecida Claire - pelo visto, mais surpresas estão por vir! Juliet (Elizabeth Mitchell) morreu de vez e dificilmente reaparecerá na série (viva, pelo menos). Enquanto isso, os demais personagens continuam transitando pela ilha, tão perdidos quanto os telespectadores.
A previsão é fechar a temporada em 18 episódios em meados do fim do mês de maio. possivelmente com um episódio duplo. Palmas para a produção, que soube a hora de parar e trabalhou na série para que a história se fechasse no tempo acordado. Vaias para o anúncio de que a série terminará sem respostas para "alguns" mistérios e para a frustração causada por um episódio de estréia morno, com pouca emoção e sem esclarecimentos. O caminho a ser tomado até o final parece o mais óbvio: o mesmo das novelas da Globo, que chovem no molhado por meses e deixam para resolver tudo no último dia. Mas, se vai ser isso mesmo, é só mais uma das muitas perguntas que não me parecem ter mais resposta.

»JUKEBOX: Em um dia para morrer de calor, nada como uma trilha sonora de ventilador no máximo. No som, Adriana Partimpim Dois, de 2009.«

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

CINEMA: INVICTUS

Em mais um filme incrível de sua carreira como diretor, o veterano Clint Eastwood conta uma história que se passa nos já distantes anos 90, ambientada na África do Sul, justamente em 2010, um ano em que todos os olhos do planeta estarão voltados para lá em razão da Copa do Mundo de Futebol. Coincidência ou não, o diretor nos narra em Invictus (Invictus, 2009) um episódio real datado de 1995, envolvendo o então presidente Nelson Mandela (Morgan Freeman) e a seleção nacional de rugby, liderada pelo capitão François Pienaar (Matt Damon).
Mandela, já empossado presidente, vê na fraca seleção nacional de rugby uma oportunidade de reerguer o esporte no país e através dele alcançar uma atenção maior de compatriotas e voltar a unir o seu povo, dividido e abalado pelos malefícios do apartheid, recentemente abolido. Para isso, ele se vale de carisma, discursos convicentes e lições de vida pessoais para demonstrar aos envolvidos o que está em jogo e atingir seus objetivos. Estrategista, justo e eficiente, o Mandela de Invictus retrata com destaque o lado humanitário e heróico do homem simples que marcou seu nome na história do país e do mundo com seus feitos em prol da união e da igualdade dos povos e das raças.
O filme, embora arrastado em certas partes, tem também boas cenas de disputas. Com as partidas de rugby perfeitamente coreografadas e repletas de apreensão, Eastwood realiza com maestria a direção, separando os momentos de ação dos de emoção e lançando no ar um suspense ou outro repentino, rememorando o clima de pânico e de tensão com o terrorismo que havia no país na época. O Mandela de Freeman é convincente e algumas cenas reconstituídas a partir de cenas reais são interessantíssimas para dar mais realismo ao filme. Matt Damon está OK no papel de jogador, um papel simples, bem representado, mas nada que mereça maior destaque - o filme é mesmo para Morgan Freeman extravasar seu talento na pele do ex-presidente sul-africano e para Clint Eastwood mais uma vez nos trazer uma história interessante e bem contada.

»MAURICIOPÉDIA: Em latim, a palavra "invictus" significa "invencível".«

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

CINEMA: PRECIOSA

17 anos, obesa, pobre, negra, semi-analfabeta, grávida de um segundo filho do próprio pai... Para Claireece Precious Jones (a estreante Gabourey Sidibe) a vida não parecia oferecer muitas alternativas senão o caminho do sofrimento e da desilusão. Maltratada pela mãe Mary (a atriz e apresentadora de TV Mo'Nique), humilhada pelos colegas e com uma bagagem de vida repleta de abusos, a jovem só possuia os sonhos e a imaginação como portos seguros para refugiar-se de suas próprias mazelas.
Em um primeiro momento o filme pode soar como um dramalhão dos mais rasgados ou ainda como um daqueles candidatos ao Supercine "baseados em fatos reais", mas não é nada disso. Preciosa (Precious: Based On The Novel Push By Sapphire) é uma história sobre superação, sobre redenção e sobre como fazer a diferença. O diretor novato Lee Daniels leva bem a história, de modo a abrandar a emoção nos momentos mais pesados, deixando a cena correr e engatando algo mais leve ou até mesmo cômico na sequência, evitando a comoção fácil e dando força aos personagens - em alguns momentos, seu trabalho lembra um pouco a linguagem de videoclipes, com cortes rápidos e com dezenas de informações fluindo ao mesmo tempo. O resultado é um belo trabalho, não se pode negar...
Além do bom roteiro e da boa direção, o elenco talvez seja o que há de melhor na fita. Mo'Nique justifica porque foi vencedora dos prêmios de melhor atriz coadjuvante no Globo De Ouro e no Screen Actors Guild (premiação do sindicato dos atores de Hollywood) na pele de uma mãe amarga, puramente malvada e vingativa - ela rouba todas as cenas em que aparece. Gabourey Sidibe faz um bom trabalho como Preciosa e mostra que tem potencial para muito mais. Completam o elenco principal a bela Paula Patton como Mrs. Rain - aquela que se pode chamar de "o anjo da guarda" de Preciosa -, um irreconhecível Lenny Kravitz no papel do enfermeiro John e, ainda, uma contida Mariah Carey, fazendo a vez de uma assistente social, surpreendentemente bem situada e convincente.
Entre os sonhos e a realidade, a história de Preciosa é contada com dignidade e sem pudores: a pobreza material e moral dos personagens não é poupada e vem à tela de forma estúpida e violenta. Os bonzinhos não são sempre bonzinhos, são reles heróis de carne e osso, com virtudes e com falhas. Os malvados têm suas fraquezas e também sofrem, com motivos e com razão. Mais que um exemplo de vivência, Preciosa é um filme honesto sobre seres humanos e do que eles são capazes, tanto para o bem quanto para o contrário.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

CINEMA: É PROIBIDO FUMAR

Em É Proibido Fumar (Brasil, 2009), Glória Pires vive Baby, uma professora de violão, mulher comum e fumante compulsiva. Baby leva uma vida meio vazia, afogada em meio a quinquilharias e móveis velhos do apartamento onde mora, herança de sua falecida mãe. Ela se apaixona fácil, e não foi diferente com o novo inquilino do apartamento ao lado, o misterioso Max (Paulo Miklos). Max é músico e professor - cheio de gírias e de um estilo meio bicho-grilo. Não leva muito até que ele e Baby se envolvam em um romance cheios de altos e baixos, com direito a reaparecimentos de ex-namoradas, desconfianças e ciúmes por parte de Baby e um incidente que virá a dar uma guinada diferente na história.
A diretora Anna Muylaert, a mesma do maluco Durval Discos e também escritora do excelente O Ano Em Que Meus Pais Saíram De Férias, dosa bem a história e ao mesmo tempo faz uma brincadeira e uma homenagem à classe média baixa, maioria dominante de grandes cidades brasileiras como São Paulo, onde o filme é ambientado. Basta uma mínima atenção para detectar sinais de breguice, de saudosismo e de simplicidade nos personagens e em seus habitats - as caracterizações e os diálogos estão ótimos: sem finésse, sem artificialidades e sem rodeios, típicos do brasileiro comum e alheios à tendência dos filmes com cara de novela, comumente produzidos no país. Ao contrário do que possa parecer, não há um discurso anti-tabagista, muito em evidência nos dias atuais - muito pelo contrário: o cigarro é um personagem com papel definitivo na história.
É Proibido Fumar é um filme direto e divertido, que não se leva muito a sério e está ali para mostrar o comum, para contar pequenas histórias, muitas delas velhas conhecidas do nosso cotidiano. O filme consegue tirar graça da rotina de forma inteligente e prova que em tudo pode haver relevância ou beleza, desde que haja uma boa história por trás para ser contada.