terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

UM OLHAR DO PARAÍSO

Antes da triologia O Senhor Dos Anéis, Peter Jackson era praticamente um desconhecido no circuito hollywoodiano. Quase 10 anos após o lançamento de A Sociedade Do Anel, o diretor neozelandês, também roteiritsa e produtor, é hoje um dos nomes mais cotados do cinema contemporâneo. É dele também a direção da refilmagem titaniquesca de King Kong (2005) e do recente Um Olhar Do Paraíso (The Lovely Bones, 2009), baseado na elogiadíssima obra literária de mesmo título, lançada em 2002 por Alice Sebold.
Além da competência na direção, Jackson tem feito fama por suas boas escolhas e pelas boas equipes que compõe a cada produção, garantindo sucesso e qualidade às obras - pode-se dizer que em Um Olhar Do Paraíso isso não é diferente: embora o filme não obtenha um mérito grandioso de excelência, a soma de trabalho no roteiro, na produção e no desempenho do elenco garantem um resultado bastante satisfatório e proporcionam alguns momentos de beleza e leve envolvimento ao contar a história de Susie Salmon (Saoirse Ronan, em ótima atuação), uma menina de 14 anos brutalmente assassinada, cujo espírito fica preso em um lugar entre o céu e a Terra, ansiando por justiça e pelo fechamento de eventos que não conseguiu cumprir em vida.
A trama belisca em assuntos que envolvem a condição do espírito e a questão da vida e da morte, sem defender nenhuma frente ou provocar polêmicas - na verdade, o fator é muito mais espiritual do que religioso, representado belamente (e às vezes até de forma meio confusa) por imagens e metáforas que se apresentam para Susie durante seu período neste "meio do caminho". Abre-se espaço para o suspense e a ação no arco que envolve o assassino de Susie, o vizinho e psicopata George Harvey (Stanley Tucci, amedrontador e quase irreconhecível). Há ainda um alívio cômico garantido por Susan Sarandon, muito bem situada no papel de avó e, por fim, há toda a comoção familiar, de onde saem bons momentos dramáticos protagonizados pelos pais da menina, interpretados por Rachel Weisz e Mark Wahlberg (milagrosamente despido da canastrice habitual).
Com uma certa arrastação e alguns contratempos de história desnecessários que nos remetem a Ghost e outras clicherias de filmes com espíritos, inclusive os de terror, a fita tem um desfecho coerente e consegue emocionar contidamente a platéia, o que já é um mérito, quando se tem uma história que, em mãos erradas, poderia virar um dramalhão sem precedentes e pôr tudo a perder. Trata-se de um trabalho realizado com capricho, com arestas aparadas e com o bom gosto pelo qual Peter Jackson se orgulha de ser reconhecido.

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