terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

CINEMA: PRECIOSA

17 anos, obesa, pobre, negra, semi-analfabeta, grávida de um segundo filho do próprio pai... Para Claireece Precious Jones (a estreante Gabourey Sidibe) a vida não parecia oferecer muitas alternativas senão o caminho do sofrimento e da desilusão. Maltratada pela mãe Mary (a atriz e apresentadora de TV Mo'Nique), humilhada pelos colegas e com uma bagagem de vida repleta de abusos, a jovem só possuia os sonhos e a imaginação como portos seguros para refugiar-se de suas próprias mazelas.
Em um primeiro momento o filme pode soar como um dramalhão dos mais rasgados ou ainda como um daqueles candidatos ao Supercine "baseados em fatos reais", mas não é nada disso. Preciosa (Precious: Based On The Novel Push By Sapphire) é uma história sobre superação, sobre redenção e sobre como fazer a diferença. O diretor novato Lee Daniels leva bem a história, de modo a abrandar a emoção nos momentos mais pesados, deixando a cena correr e engatando algo mais leve ou até mesmo cômico na sequência, evitando a comoção fácil e dando força aos personagens - em alguns momentos, seu trabalho lembra um pouco a linguagem de videoclipes, com cortes rápidos e com dezenas de informações fluindo ao mesmo tempo. O resultado é um belo trabalho, não se pode negar...
Além do bom roteiro e da boa direção, o elenco talvez seja o que há de melhor na fita. Mo'Nique justifica porque foi vencedora dos prêmios de melhor atriz coadjuvante no Globo De Ouro e no Screen Actors Guild (premiação do sindicato dos atores de Hollywood) na pele de uma mãe amarga, puramente malvada e vingativa - ela rouba todas as cenas em que aparece. Gabourey Sidibe faz um bom trabalho como Preciosa e mostra que tem potencial para muito mais. Completam o elenco principal a bela Paula Patton como Mrs. Rain - aquela que se pode chamar de "o anjo da guarda" de Preciosa -, um irreconhecível Lenny Kravitz no papel do enfermeiro John e, ainda, uma contida Mariah Carey, fazendo a vez de uma assistente social, surpreendentemente bem situada e convincente.
Entre os sonhos e a realidade, a história de Preciosa é contada com dignidade e sem pudores: a pobreza material e moral dos personagens não é poupada e vem à tela de forma estúpida e violenta. Os bonzinhos não são sempre bonzinhos, são reles heróis de carne e osso, com virtudes e com falhas. Os malvados têm suas fraquezas e também sofrem, com motivos e com razão. Mais que um exemplo de vivência, Preciosa é um filme honesto sobre seres humanos e do que eles são capazes, tanto para o bem quanto para o contrário.

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