A exemplo do capítulo final da franquia Harry Potter, que produtores e fãs fervorosos juram de pés juntos que não havia como retratar em um único filme, a entitulada Saga Crepúsculo achou por bem (sobretudo de suas finanças) dividir o último livro também em duas partes. Amanhecer - Parte I (Breaking Dawn - Part I, EUA, 2011) poderia perfeitamente se chamar Aborrecer - Parte I, a julgar pela chatice que ocupa 90% da fita e promete mais uma dose cavalar de abobrinhas para a pretensiosa segunda parte que estreará somente em 2012.
Para um fechamento de franquia, a produção deixou muito a desejar: faltou emoção no tão esperado casamento entre Bella (a coelha Kristen Stewart) e o vampiro Edward (Robert Pattinson), a tão badalada passagem do casal em lua-de-mel pelo Rio de Janeiro foi um mero arremedo e se resumiu ao confinamento em uma ilha que poderia ser em qualquer lugar do planeta e, por fim, além de prometer uma guerra mal formada entre lobos e vampiros, na hora "H" tudo esmoreceu e durou pouco mais de dois minutos, resolvendo-se da maneira mais imbecil possível. O desenlace do triângulo amoroso entre a mortal, o vampiro e o lobisomem Jacob (Taylor Lautner, que, apesar de meio canastra, sempre se sobressai nas interpretações dos filmes da franquia), que seria outra promessa da história, foi também pífio e mal aconteceu.A única salvação desta primeira parte é a chegada do bebê de Bella e Edward. Não era nenhum segredo que isso aconteceria, pois o próprio trailer denunciava a gravidez, que, por sinal, acabou por se tornar um show de horrores, com direito a copos de refresco com sangue para Bella beber e cenas bizarras de parto. No mais, é o mesmo feijão com arroz que se viu nos três filmes anteriores: um discurso pudico e assexuado, vampiros bundões maquiados com pomada Minâncora, donzelas insossas, meninos-lobos rebeldes sem causa e diálogos toscos que se levam a sério. Não era de se esperar nada melhor de uma autora como Stephenie Meyer, seguidora de doutrinas religiosas que pregam virgindade e outras virtudes politicamente corretas, que pensa ser possível alterar toda uma mitologia macabra e sexual como a vampiresca sem soar, no mínimo, incoerente. O triste é saber que muita gente morde essa isca... Assim, em certos momentos não se pode culpar só o filme: a narrativa extraída do livro prefere solucionar tudo do modo mais fácil e bonitinho, sem maiores dramas ou qualquer vislumbre de inteligência.
O que se tem como produto final é um filme ruim, tampouco bom tecnicamente ou dramaturgicamente falando, mas que vai forrar o bolso de muita gente envolvida e vai continuar perpetuando uma cultura comercial mastigada e de fácil (porém amarga) digestão. Apesar das críticas negativas à franquia, as multidões peregrinam cada vez mais aos cinemas em cada lançamento - a maioria cinéfilos de ocasião - e ainda saem satisfeitas querendo mais. Não dá para negar que o filme contém todos os elementos pop chamativos para as grandes plateias da atualidade e usa isso ao seu favor: personagens jovens e bonitos, romance, lutas, tensão e piadinhas que, embora cretinas e muitas vezes constrangedoras e descabidas, ainda causam muitas gargalhadas nos espectadores.Depois de ter assistido esta primeira parte, me pergunto se será realmente necessária a quebra em dois filmes, visto que quase todos os fatos importantes da trama foram resolvidos agora, restando aparentemente, somente o confronto final com o Clã Volturi - ao meu ver, um gancho fraco ao qual nenhum dos filmes anteriores deu muita importância. Mas isso é outra história para daqui a mais ou menos um ano!
Em tempos de Internet, redes sociais, consumo em massa e reality shows, o filme do diretor Nando Olival vem a calhar, não como discurso negativo sobre qualquer uma dessas realidades, mas como instrumento de entretenimento e reflexão sobre onde termina o que é real e começa o que não é. Os 3 (Brasil, 2011) é uma grande brincadeira com verdades e mentiras, bem arquitetada, de modo a não deixar o espectador, aqui fazendo o papel de voyeur, indiferente.
"Tempo é dinheiro" é um argumento forte no futuro aqui retratado: a humanidade mutou geneticamente, de modo que o indivíduo pára de envelhecer aos 25 anos e, deste ponto em diante, recebe um único ano a mais de tempo de vida, que pode ser ampliado de acordo com suas aquisições, trabalhos ou, em casos extremos, roubado de outros. O tempo é a moeda de troca para tudo, onde os pobres sucumbem e os ricos sobressaem-se às suas custas (uma espécie de alfinetada ao capitalismo do mundo atual).
Quando o assisti na telona pela primeira vez, em 1994, tinha exatamente a metade da idade que tenho hoje. Este era um ano onde Pixar não era sequer conhecida e o primeiro e revolucionário Toy Story se encontrava há dois anos de seu lançamento nos cinemas. Era até meio incomum adultos e adolescentes irem ao cinema para assistir desenhos (até porque o conceito de animação nem existia) - salvo acompanhados de uma criança.

Vendido como uma releitura cinematográfica "moderna" do clássico literário de Alexandre Dumas (1802-1870), esta nova versão de Os Três Mosqueteiros (The Three Musketeers , de Paul W.S. Anderson, 2011) nada mais é do que um enlatado sem-vergonha com pretensões de franquia, cheio de invencionices tecnológicas, canastrices de elenco e reviravoltas na trama de tontear até barata - ainda carrega consigo a marca do 3D, outro embustre tecnológico que virou status diferencial para muito filme sem muito mais o que oferecer.
A tensão que se estabelece na fita, sobretudo nos momentos iniciais, quando se passa a perceber como o vírus se espalha, não necessita de apelos, pois é sutil e progressiva. Um universo de eventos desencadeados com a doença dita o andamento da história, envolvendo cientistas, burocratas, pessoas infectadas, amedrontadas, aproveitadores e teóricos da conspiração.
Em seu segundo longa-metragem como diretor, Selton Mello se redime da estranheza de sua estreia com Feliz Natal (Brasil, 2008) e brinda o público com o genial O Palhaço (Brasil, 2011).