sexta-feira, 4 de novembro de 2011

CINEMA: ENTRE SEGREDOS E MENTIRAS


O diretor Andrew Jarecki ganhou prestígio quando dirigiu em 2003 o bom documentário Na Captura Dos Friedman e agora estreia no campo da ficção, dirigindo com mão pesada o mediano Entre Segredos E Mentiras (All Good Things, 2010). A história, baseada em fatos reais e calcada na trajetória de David Marks (interpretado com competência pelo ascendente Ryan Gosling) entre os anos de 1971 e 2003, procura elucidar os mistérios que envolvem o desaparecimento (e possível assassinato) de sua esposa Katie (Kirsten Dunst) em 1982, do qual foi acusado e absolvido.
O percurso mostra o envolvimento amoroso de Mark e Katie, a pressão do poderoso pai (Frank Langella) para que Mark assuma os negócios escusos da família, e, em clima de reviravolta, o desabrochar de uma identidade perturbadora no personagem, culminando em desvio de comportamento, lembranças do passado, violência doméstica e no suposto crime não desvendado até hoje. O roteiro de Marcus Hinchey e Marc Smerling se dá a liberdade de desvendar o crime, sugerindo método, datas, locais e envolvidos, o que tira fôlego da fita, subtraindo o suspense da trama e enfraquecendo a construção do personagem de Mark - até então interessantíssimo - promovendo-o a um reles psicopata, através de uma sucessão de outros assassinatos que realmente ocorreram.
Falta também identidade ao filme: romance, drama e thriller de assassinato andam juntos, mas não conversam... É como se fossem vários filmes em um mesmo, que se sucedem, mas não se completam. A duração se arrasta um pouco além da conta e o timing também prejudica a evolução.