sábado, 30 de janeiro de 2010

ONDE VIVEM OS MONSTROS

Adaptado do livro infantil de mesmo título do escritor Maurice Sendak e dirigido por Spike Jonze, Onde Vivem Os Monstros (Where The Wild Things Are, 2009) à primeira vista parece um filme infantil, mas é algo que vai muito além - confuso para as crianças e, no mínimo, subjetivo para os adultos.
O garotinho Max (Max Records), nos meados de seus 9 ou 10 anos, é uma criança padrão dos dias de hoje: desobediente, demasiado arteiro e fora de controle, do tipo que sobe na mesa de jantar de sapatos e morde a própria mãe (Catherine Keener). Max é ainda imaginativo, incansável e solitário, vestido em sua fantasia de lobo. E é justamente em uma de suas aventuras imaginativas que o garoto encontra um barquinho atracado na água, entra nele e navega até uma ilha muito, muito distante, habitada somente por monstros. Os monstros, de aparências, tamanhos e tipos diferentes, a princípio mostram-se selvagens e têm por desejo devorá-lo, mas ele logo os convence de que é um ser importante e termina por ser coroado rei daquelas criaturas. Na ilha Max vai conviver com as aventuras, os medos e os dramas dos monstros, em sequências ora encantadoras, ora estranhíssimas e descabidas.
Onde realmente vivem os monstros fica evidente: a mente de Max é sua própria ilha, formada por florestas devastadas, colinas, desertos e praias ensolaradas. A pergunta mais relevante é sobre quem são os monstros afinal. Temos desde o instável Carol (o personagem da foto, voz de James Gandolfini) até a bondosa KW (voz de Lauren Ambrose), passando pela egoísta e manipuladora Judith (voz de Catherine O'Hara) e pelo complacente Alexander (voz de Paul Dano), além do pássaro Douglas (voz de Chris Cooper), o grandalhão Ira (voz de Forest Whitaker) e o sinistro touro sem nome (voz de Michael Berry Jr.). São monstros com vontades próprias, com personalidades fortes, com virtudes e muitas falhas - não fossem suas aparências e deformações, seriam moldes perfeitos de seres humanos. Os monstros representam o melhor e o pior em Max, em um momento unidos e aconchegantes, em outro brutos e ferozes. São ingênuos, são ignorantes, são possantes, são infelizes, são famintos, são carentes. Max tem na ilha a maior viagem de sua vida, uma descoberta dentro de si mesmo, na companhia de monstros que ele mesmo criou, que ele mesmo governou, dois quais ele precisou fugir e que tentaram friamente lhe devorar.
O diretor Spike Jonze é dado a títulos mais alternativos. Egresso dos videoclipes, dois filmes que ficaram famosos em suas mãos foram Quero Ser John Malkovich (Being John Malkovich, 1999) e Adaptação (Adaptation, 2002). Com o livro de Sendak em mãos, ele e Dave Eggers escreveram o roteiro e extravasaram todas as ideias que poderiam ter sido concebidas para o filme. Aliado à mescla de live-action com animação em CGI, o diretor criou um ambiente adequado para o filme, concebeu monstros incrivelmente reais e adicionou movimentação à história do garoto Max. A presença dos monstros torna o filme engraçadinho, mas de modo geral o resultado final é médio. Nas suas inconstâncias, os monstros são explosivos e deixam muito para a nossa interpretação. Cansativo, pesado e irritante em muitos pontos, o filme convida bastante a pensar, mas nem sempre vale o esforço.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

DOLLHOUSE: A BRINCADEIRA CHEGA AO FINAL

Vai ao ar hoje à noite Epitaph 2: Return, o episódio que dá um fim definitivo a Dollhouse e também à tentativa da Fox americana de emplacar uma faixa de Sci-Fi nas noites de sexta-feira. Assim como sua co-irmã Terminator: The Sarah Connor Chronicles, Dollhouse não emplacou no gosto do público, os índices de audiência (que já eram baixos) foram caindo gradativamente e não houve outra alternativa senão fechar as portas da casinha de bonecas. Tão pouca era a força da série, que não conseguia nem mesmo se destacar nas noites de sexta, onde não há praticamente nada importante no ar - talvez as pessoas preferrisem desligar suas TV's a assistir Dollhouse...
Com um total de 26 episódios, divididos igualmente em 2 temporadas, a série que teve como protagonista a atriz Eliza Dushku na pele da "boneca de aluguel" Echo, teve uma sobrevida prolongada mediante o que oferecia ao telespectador. A premissa consistia em uma espécie de agência secreta que, em um futuro próximo, alugava pessoas para quem estivesse disposto a pagar um alto preço por elas. As "bonecas", como eram chamadas, podiam ser homens ou mulheres, cujos cérebros eras programados para corresponder ao trabalho ou às expectativas que seus clientes solicitavam - a cada cliente, uma nova programação. A partir daí passou-se a descobrir que essas pessoas utilizadas como bonecas eram desaparecidas e que a agência, além de prestar um tipo de serviço no mínimo incomum, era também envolvida nos sequestros. Em geral, cada episódio consistia em um "trabalhinho" diferente de Echo para um novo cliente, mesclado com algum acontecimento relacionado ao segmento da história principal, como investigações policiais envolvendo a agência ou surtos de piripaques no cérebro da moça, fazendo-a relembrar de flashes da sua vida anterior ao sequestro.
Juro que tentei assistir a primeira temporada, mas não deu para ir adiante após 3 ou 4 episódios: a série era chata, desinteressante, mal feita, mal escrita e, os atores, quando não eram canastrões, eram inexpressivos (a começar pela protagonista) ou interpretavam personagens sem graça. Para piorar, cada episódio levava uma eternidade para terminar.
Em outras mãos, talvez a série tivesse rendido um pouco mais de caldo do que rendeu na Fox. Por não estar mais assistindo, talvez esta seja até uma notícia que me agrade, embora também saiba que alguns poucos fãs vão sentir saudades. Torçamos para que no ano que vem a emissora encontre algo melhor e duradouro para colocar no lugar.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

DAMAGES, 3ª TEMPORADA: SEUS SEGREDOS ESTÃO A SALVO

Um golpe imobiliário, uma colisão barulhenta de carros, um cadáver encontrado no lixo, uma bolsa Chanel de 3.000 dólares e uma viagem de 6 meses no tempo: eis alguns ingredientes da fórmula explosiva que inaugurou a 3ª temporada de Damages, uma das séries de TV mais envolventes e intrigantes da atualidade. Esqueça ilhas misteriosas, fenômenos inexplicáveis, corredores de hospitais e pessoas com habilidades especiais - a temida Patty Hewes (Glenn Close) prende a tensão do público discutindo processos penais e tomando providências muitas vezes fora do convencional.
Assim como o choque que abriu a 1ª temporada, com uma Ellen Parsons (Rose Byrne) toda ensanguentada se arrastando para fora de um elevador, ou ainda uma Ellen vingativa disparando contra uma figura não revelada no início do ano 2, o episódio de abertura da nova temporada apresenta fatos, deixa pistas e transtorna os viciados em mistério, formando um arco de suspense que só dará as respostas ao findar de 13 episódios, transcorridos em 13 longas semanas.
Com Ellen trabalhando no departamento de narcóticos, tudo parece seguir um rumo diferente na vida da advogada. Enquanto isso, Patty se engaja em uma causa contra um construtor que aplicou um golpe imobiliário e deixou dezenas de pessoas na miséria, travando uma nova batalha contra advogados e poderosos que, mais uma vez, pode terminar em resultados desastrosos para muitos dos envolvidos. Temos até aqui uma Patty mais contida - sempre escondendo suas jogadas e sem suas costumeiras explosões de ira -, mas com um desejo evidente de reaver sua antiga funcionária. A cena em que ela e Ellen se encontram já vale pelo episódio todo: nota-se uma química excelente entre as atrizes, formando um diálogo tenso e cheio de reticências. O que ainda está por vir não se sabe e como os meios de hoje justificarão os fins em 6 meses no futuro ainda é uma incógnita - e essa sucessão de surpresas e reviravoltas, além dos ótimos diálogos e das ótimas atuações, é justamente o que tem feito de Damages um sucesso de público, crítica e premiações.
No elenco fixo, além das personagens de Close e Byrne, mantém-se o dúbio Tom Shayes (Tate Donovan) e entram em cena novas peças para compor o quebra-cabeça, algumas vividas por atores já conhecidos do grande público, como Campbell Scott, Martin Short e Lily Tomlin. Se a série mantiver o alto padrão de qualidade das temporadas anteriores, a nova temporada tem tudo para pegar fogo, sobretudo depois de uma premissa tão rica em fatos e detalhes, como a que foi tramada. E isso é apenas o começo...

»MAURICIOPÉDIA: Your Secrets Are Safe (Seus Segredos Estão A Salvo) é o título do 1º episódio da nova temporada, que foi ao ar nos EUA nesta última segunda-feira (25/01).«

domingo, 24 de janeiro de 2010

AMOR SEM ESCALAS

Com uma tradução mal feita do título para o português, Amor Sem Escalas (Up In The Air, 2009) está sendo vendido como comédia romântica, porém, a fita dirigida por Jason Reitman, o mesmo de Juno e Obrigado Por Fumar, vai muito além de um romance nas alturas. George Clooney vive Ryan Bingham, um executivo cuja função é viajar os Estados Unidos para demitir funcionários de empresas. Para isso, ele passa 90% de seu tempo fora de casa, vagando de aeroporto em aeroporto, de hotel em hotel, de cidade em cidade - sua casa é o céu pelo qual voa diariamente e seus pertences cabem todos em uma única mala.
Ray, ou Sr. Bingham, como é mais conhecido, é um homem cínico e solitário. Em suas palestras discursa sobre o excesso de bagagem que carregamos, tanto material quanto emocional, sugerindo a libertação do peso e o abandono de tudo que atrapalhar. No decorrer do filme, Ray vai abrindo sua guarda para os espectadores e se revela um homem sofrido, com medos, frustrações e carências, afastado das pessoas e da própria família, cujo único escape é viajar incansavelmente, apagando seu paradeiro e suas referências.
Duas mulheres aparecem em sua vida para abalar seu mundinho fechado: a primeira é Alex (Vera Farmiga), uma executiva viajante e amante casual que termina por servir de centelha para reacender a chama humana de Ray. A segunda é Natalie (Anna Kendrick), uma colega de trabalho de Ray que será sua aprendiz no ofício das demissões e que colocará a sua (e a nossa) consciência em xeque com as atitudes. Durante os 109 minutos de filme, acompanhamos a ascenção e a queda pessoal de Ray, seu modo de lidar com os altos e baixos e a ideia de que sempre se pode tomar um avião para escapar do que chamamos de mundo real.
A história é bem simples, mas diverte e comove moderadamente. Sem grandes surpresas e reviravoltas, o diretor sabe contar a história e conduz bem os personagens, bem representados pelos seus intérpretes, justificando as diversas indicações recebidas para o Golden Globe e para o SAG, embora somente o roteiro tenha vencido na primeira premiação. A história mexe ainda com o assunto da última crise econômica mundial que, embora já mais calma, ainda assombra diversas empresas e funcionários. O assunto das demissões é bem explorado e talvez seja o mérito maior da história, levando a algumas reflexões e mostrando uma ponta de realidade através da ficção.

»JUKEBOX: Post escrito ao som de Glee: The Music, Vol. 1, primeira trilha sonora derivada do seriado revelação da fall season 2009/2010

domingo, 17 de janeiro de 2010

SÉRIES: CONFUSÕES NAS TEMPORADAS

Não é só pelas histórias que as séries nos confundem às vezes. Em diversas delas, principalmente as que têm continuidade e precisam de uma sequência lógica para seguir, perder um episódio ou assistí-lo fora de ordem pode significar uma confusão total na compreensão da história ou ainda estragar inúmeras surpresas até então não reveladas. O problema é que há casos em que este tipo de confusão é causado pelas próprias produções das séries ou pelas emissoras que as veiculam. A seguir, 3 exemplos clássicos e bem recentes.

NIP/TUCK: A simples virada de ano foi desculpa mais que razoável para a 6ª (e até então última temporada) ser finalizada em 10 episódios, sem aviso prévio. A série retornou agora em janeiro com o rótulo de 7ª temporada e com a história evoluída em alguns meses no tempo, sem uma recapitulação ou mera explicação dos fatos omitidos. Possivelmente um artifício para o lançamento de um box a mais em DVD e a garantia de um lucro maior em cima os últimos suspiros da série.

FRINGE: Estacionada desde o início de dezembro, a série retornou na última segunda-feira (11/01), com o 11° episódio da 2ª temporada. Ao término do episódio, uma dúvida geral: um personagem que havia morrido recentemente apareceu e interagiu com o restante do elenco como se nada houvesse ocorrido. Os mais afoitos começaram a levantar teorias sobre como ele estava de volta e logo veio uma explicação mais que plausível: a 1ª temporada foi comprada pela Fox com 21 episódios, dos quais somente 20 foram ao ar. Inexplicavelmente veicularam esse episódio, embora bacana, "perdido", fora de seu dia de exibição (o dia correto é quinta-feira) e fora de ordem, como se constasse na sequencia normal. O que se pensou ser o episódio 02X11 foi, na verdade, o 01X21. Na quinta a história voltou aos eixos, porém seguindo a sequencia incorreta, retornando com o 02X12. Vá entender!

LOST: Este provavelmente foi o campeão de equívocos! Em geral comento as séries em sincronia com o que passa nos EUA, mas por curiosidade assisti a uma gravação do episódio-resumo que a Rede Globo exibiu antes de iniciar a 5ª temporada de Lost, no dia 04/01. O que era para ser um resumo dos acontecimentos até o final da 4ª temporada, na verdade foi um especial exibido lá fora na metade da 5ª temporada. Para quem não havia assistido ainda, foi uma decepção - as surpresas e os pontos altos de acontecimentos até a metade da 5ª temporada foram entregues antes mesmo dos episódios irem ao ar. Mico total por falta de informação do seu Plim-Plim.

»JUKEBOX: A trilha de hoje foi o álbum homônimo e de estréia de Maria Gadú, lançado em 2009.«

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

SHOW MARIA GADÚ


14 de Janeiro, Bar Opinião, Porto Alegre - RS. Às 23:36, com 36 minutos de atraso, ela entra no palco, sob aplausos e euforia de uma platéia cheia, formada em sua maioria por mulheres. Maria Gadú, na flor de seus 22 anos, é uma menina com ares de moleque, franzina, um pouco desengonçada, tímida e aparentemente frágil. Suas canções são simples e suaves, sua voz é delicada e levemente rouca. Sua banda, formada por baixo, guitarra, bateria, teclado e percussão trabalha com eficiência, de modo a compor uma unidade, como a cantora afirma humildemente durante um dos vários e simpáticos papos direcionados à platéia.
"Nosso primeiro show do ano, estou muito feliz por estar de volta à Porto Alegre" - apenas um entre os diversos elogios e agradecimentos que Gadú solta durante sua apresentação, com duração de exata hora e meia. A menina envergonhada é só simpatia com seus fãs e aparenta uma simplicidade em seu modo de ser, sem demonstrar afetações ou estrelismos. Com uma garrafinha de água quase intocada e um copo de bebida que aparenta whisky ou conhaque ao seu lado, a cantora solta a voz e mostra ainda mais força e timbre do que em seu disco de estréia (Maria Gadú, 2009), superando-se na execução das canções, que em estúdio já eram excelentes.
O repertório, formado em maioria pelas canções de seu único disco, abre espaço para Gadú introduzir alguns covers de seus artistas favoritos, como Alanis Morissette (Right Through You), Pink (Who Knew?), Adoniram Barbosa (em uma rasgada versão de Trem Das Onze), Paralamas Do Sucesso (Lanterna Dos Afogados) e Jay Vaquer (Cotidiano De Um Casal Feliz), para quem a cantora foi só elogios. Alternando elétrico e acústico, Gadú e sua banda realizam um desfile de MPB, blues, pop e rock, alternando bom gosto com momentos de descontração - entre eles a palhinha da música do Cross Fox, da web-singer Stephany Absoluta. Merecidamente ovacionada, ela se despede, prometendo voltar em breve.

»FOTOS: Mauricio Costa

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

SHERLOCK HOLMES

Em seu projeto mais ambicioso até hoje, o diretor Guy Ritchie, também conhecido por ser o ex-marido de Madonna, foi o responsável por trazer mais uma vez à telona as aventuras do detetive mais famoso de Londres e do mundo, Sherlock Holmes (Sherlock Holmes, 2009). Na tentativa de criar uma nova e lucrativa franquia, a fita traz baixa censura, um elenco estrelar, elementos de comédia e ação e um gancho para garantir uma continuação. Só ficou faltando o principal - o suspense...
Com Robert Downey Jr. na pele do astuto detetive e Jude Law como seu fiel escudeiro Dr. Watson, a trama é centrada na captura de Lord Blackwood (Mark Strong), um assassino satânico que, após ter sido enforcado, retorna do mundo dos mortos aterrorizando com magia negra a Londres do final do século XIX e envolvendo a dupla de heróis em uma série de investigações e armadilhas mortais. Rachel McAdams completa o elenco principal, vivendo Irene Adler, uma ladra e ex-paixão de Holmes, que entra em cena muito mais para ser a bonita da vez do que para ter qualquer utilidade senão empatar o desenvolvimento das investigações.
A produção da fita e a recriação da Londres da época são impecáveis. O filme se perde mesmo é no conceito. Aqui Holmes é um bêbado, fanfarrão e atrapalhado que sai aos socos com qualquer um por qualquer coisa, lembrando muito mais o inspetor Clouseau (de A Pantera Cor-De-Rosa) do que o sério detetive dos livros de Sir Arthur Conan Doyle. Watson é como o Grilo-Falante de Holmes, sempre tentando, inutilmente, colocá-lo no lugar. Juntos, eles parecem mais Chris Tucker e Jackie Chan em A Hora Do Rush ou Owen Wilson e, novamente, Jackie Chan em Bater Ou Correr. O excesso de soquinhos, corre-corres e piadinhas engraçadinhas tirou todo o cérebro do filme, deixando pouco espaço para os enigmas instingantes, economizando até mesmo a tensão e os sustos, possivelmente em detrimento da baixa censura.
Sherlock Holmes torna-se, no fim das contas, um filmezinho mediano, calcado em ação e boas brigas. O formato concebido e a história de fácil entendimento tendem a torná-lo um sucesso, porém, diferente das pretensões, dificilmente será considerado um grande filme, mas um potencial candidato a futuro clássico da Sessão Da Tarde.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

SEMPRE AO SEU LADO

Engana-se quem afirmar que Sempre Ao Seu Lado (Hachiko: A Dog's Story, 2009) é mais um filme de cachorrinho e uma mera versão do sucesso Marley E Eu (Marley & Me, 2008). O competente diretor Lasse Hallström, que tem no currículo Regras Da Vida (The Cider House Rules, 1999) e Chocolate (Chocolat, 2000), soube traduzir com sutileza e sem apelações a história verídica que aconteceu no Japão no início do século passado, envolvendo um homem e seu cão Akita de estimação.
Richard Gere vive Parker Wilson, um professor de música que encontra o cãozinho ainda filhote na estação de trem de sua cidade e o leva para casa, sob os protestos de sua esposa Cate (Joan Allen). A personagem de Allen é um dos pontos altos de emoção no filme, sobretudo após a segunda metade. A filha do casal, Andy (Sarah Roemer) tem um papel carismático e meramente alegórico na trama, assim como outros personagens acessórios que só vieram a somar e contribuir para o acerto do filme. O próprio fato de se ter um cão como personagem principal e enxergar o mundo sob os olhos do animal já traria beleza, inocência e graça à fita.
Outras boas escolhas trouxeram diferenciais: há uma tradição em Hollywood de transformar histórias e remakes de filmes orientais em verdadeiras bombas, e aqui tem-se uma exceção, em um filme com ritmo leve, diálogos bem escritos, ambientação e cenários simples, uma discreta e bem encaixada trilha sonora. Ao contrário do que dizem, a fita tem muito mais potencial para comover do que para fazer chorar, embora consiga arrancar lágrimas de ânimos mais sucetíveis ao choro. Em síntese, é uma bela e rica história sobre família, amor e amizade.

»JUKEBOX: A trilha de hoje foi o álbum Álibi, gravado em 1978 por Maria Bethânia. Segundo os números, foi na história o primeiro disco de uma cantora brasileira a vender mais de um milhão de cópias.«

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

SPARTACUS: BLOOD AND SAND

Nova série do canal Starz, Spartacus: Sand And Blood tem estréia marcada para o próximo dia 22 de janeiro na TV norte-americana. Vazaram na rede os primeiros 2 episódios e pude dar uma conferida de antemão no épico.
A série conta a saga de um soldado (interpretado pelo ainda desconhecido Andy Whitfield) cujo nome real por enquanto não foi revelado, um habitante da antiga região européia denominada Trácia, que, por uma desavença com o exército romano, provoca um motim entre seu povo e tem como consequência sua prisão e a venda de sua bela esposa Sura (Erin Cummings) como escrava. A partir daí, o soldado é jogado na arena de gladiadores como saco de pancadas para os lutadores e, adivinhem, termina por vencer um confronto, é aclamado com o título de "Spartacus" (o nome de um grande rei trácio) e recebe uma segunda chance de viver ao ser vendido para o proprietário de um Ludus, uma "academia" de treinamento de gladiadores, o ambicioso e endividado Batiatus (John Hannah, mais conhecido por sua participação na triologia A Múmia), esposo da ardilosa Lucretia (a Xena Lucy Lawless).
Em seus episódios de apresentação, Spartacus demonstra um exagero no estímulo visual e deixa a desejar nos demais quesitos. A série já começa contando contra si as inevitáveis semelhanças com a excelente, mas já extinta série Roma (2005-2007), com o clássico do cinema Spartacus (1960), cujo próprio nome foi emprestado, e com o aclamado e mais recente Gladiador (2000). O roteiro se concentra em um único ponto - a história do soldado Spartacus - e não parece inclinado a desenvolver outros personagens e outras tramas paralelas, de modo a render mais histórias interessantes e segurar melhor o interesse do telespectador. Pesa ainda no elenco, formado quase que por desconhecidos, algumas presenças que transcendem a canastrice.
Visualmente o produto é bem feito, ainda que exagerado. Mirando em um público mais jovem, a série tenta combinar o épico com linguagem de histórias em quadrinhos, técnicas de movimento mais que manjadas, uma trilha sonora moderna que muits vezes não combina com as cenas e um literal banho de sangue, sem deixar muito espaço para algo além da ação. Todas as tentativas de diferenciais empregadas acabam caindo em plágio de obras do cinema como Matrix (1999) e 300 (2006), só pra citar algumas. O que prejudica ainda mais as cenas é a repetição: as cenas de luta, por exemplo, são quase que executadas em câmera lenta, com direito a "paradinhas" de câmera na hora dos ferimentos, seguidas de uma explosão de sangue surreal na maioria dos casos, na intenção de homenagear o formato HQ. Excetuando-se as cenas de sexo que são bem picantes e dão abertura para um pouco de "emoção", Spartacus: Blood And Sand é exatamente o que o título promete - sangue e areia. Embora fraca, a série é um bom entretenimento, e disso não parece passar.

»JUKEBOX: Para animar a criação do post, Fernanda Abreu e seu Entidade Urbana, de 2000.«

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A FESTA DO SANTO REIS

Conta a história que Jesus Cristo nasceu em Belém no dia 25 de dezembro do ano que viemos a conhecer como ano zero. Conta também a história que no dia 6 de janeiro seguinte, o recém-nascido recebeu a visita de 3 Reis Magos vindos do oriente, que chegaram guiados por uma estrela no céu, trazendo-lhe de presente ouro, incenso e mirra. Este dia ficou conhecido como Dia de Reis, mais lembrado pelo povo ocidental como o dia em que desarmamos a árvore e as decorações de Natal.
Uma verdade precisa sobre os 3 Reis Magos não existe. O único volume da Bíblia que os menciona é o Evangelho Segundo São Mateus, sem sequer precisar o número de Reis que vieram visitar Jesus - presume-se que eram 3 pela quantidade de presentes que trouxeram.
Não se sabe nem mesmo se eles eram reis de fato: segundo pesquisas, é mais provável que tenham sido astrólogos ou astrônomos, uma vez que seguiram a estrela que os levou em direção ao Messias. Acredita-se também que fossem sacerdotes da religião zoroástrica da Pérsia, ou conselheiros. Seus nomes seriam Melchior, Gaspar e Baltazar. Eles ganharam a denominação de Santos Reis somente oitocentos anos após o nascimento de Cristo.
A eles é atribuida a tradição da troca de presentes no Natal, embora algumas culturas ainda o façam somente no próprio Dia de Reis. Na antigüidade, o ouro era um presente para reis, o olíbano (incenso) para sacerdotes, representando a espiritualidade, e a mirra, para profetas (a mirra era usada para embalsamar corpos e, simbolicamente, representava a imortalidade).
Os Reis Magos são considerados santos pela Igreja Católica e seus fiéis crêem em seu poder para a concessão de pedidos. Em diversos países são celebrados em cultos e festejos religiosos, como a Folia de Reis, festa de origem portuguesa que acontece principalmente no interior do Brasil no período entre 25 de dezembro e 6 de janeiro.
Embora nenhum fato seja provado, há diversas hipóteses que circulam em torno do nascimento de Cristo e da visita dos Reis Magos. Fiz esta pequena pesquisa na Internet e divido-a aqui com meus leitores. Posso dizer que foi no mínimo culturalmente enriquecedora. Agora que já sei um pouco mais sobre os Reis Magos, vou fazer meus pedidos e desmontar minha árvore de Natal.

Fontes: InfoEscola e Wikipédia.

»JUKEBOX: A trilha do post ficou a cargo de Paraiso Express, o mais recente trabalho do espanhol Alejandro Sanz, saído do forno no final de 2009.«


»MAURICIOPÉDIA: Em alusão à tradicional Festa de Santos Reis, A Festa do Santo Reis foi composta por Márcio Leonardo e é um dos maiores sucessos da carreira do inesquecível soulman Tim Maia

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O CAMPEÃO DE PIRATARIA DE 2009

De acordo com o blog TorrentFreak, que reporta na Internet o mercado negro conhecido como file-sharing, estima-se que a série de TV Heroes, da rede NBC, tenha sido a campeã de downloadas ilegais na rede do ano de 2009.
Na verdade essa estatística não foi realizada sobre as temporadas completas das séries avaliadas, mas sobre o episódio mais baixado de cada uma, o que poderia gerar um resultado diferente se a amostragem tivesse sido feita do outro modo.
Heroes, cuja audiência na TV está cada vez mais baixa, comprova que sua legião de fãs na rede continua fiel, colocando-a nesse status, no mínimo indesejável sob os olhos do mercado televisivo. Formado em sua maioria por adolescentes e adultos fãs de HQ's e ficção científica, o grupo de seguidores da série não compõe o único perfil responsável pelo crescente número de downloads ilegais registrados a cada ano: fãs de séries médicas (como House e Grey's Anatomy), femininas (Desperate Housewives) e policiais (24 Horas e Prison Break) coroam suas séries favoritas na mesma lista, fazendo-as competir acirradamente no ranking da pirataria.
De acordo com a lista, somente 2 das séries que entraram no TOP 10 são exibidas por TV a cabo (Dexter, da Showtime e True Blood, da HBO), enquanto que as demais são veiculadas na TV aberta, comprovando que a pirataria vai muito além dos espectadores que não querem pagar os canais por assinatura. Essa consideração do artigo leva em conta ainda os fãs fora dos EUA, um número também significante de pessoas que querem assistir suas séries favoritas com antecedência ou não possuem condições de arcar com o altíssimo preço das TVs a cabo e dos boxes das séries em DVD.
O artigo conclui com uma grande verdade: os hábitos dos telespectadores estão mudando e o grande desafio das redes não é mais conter a pirataria, e sim achar uma forma dela trabalhar a seu favor. Abaixo o TOP 10 completo (infelizmente não foram divulgados os títulos dos episódios mais baixados de cada série):

01. Heroes = 6.580.000
02. Lost = 6.310.000
03. Prison Break = 3.450.000
04. Dexter = 2.780.000
05. House = 2.590.000
06. 24 = 2.440.000
07. Desperate Housewives = 2.180.000
08. Terminator: The Sarah Connor Chronicles = 1.960.000
09. Grey's Anatomy = 1.740.000
10. True Blood = 1.600.000

Fonte: TV.com.

»JUKEBOX: A trilha do dia ficou por conta de The Circle, novo álbum do Bon Jovi, lançado no finzinho de 2009.«

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

DEBAIXO D'ÁGUA

O Ano Novo mal começou. Para muita gente, o Ano Novo começou mal. Desde o dia 31 de dezembro, os noticiários não falam em outra coisa: enchentes, inundações, resgates, flagelados, mortos e feridos. A água está castigando nossa pátria querida. A água e as consequências de nosso próprio comportamento enquanto cidadãos.
Trágico e triste foi o que aconteceu durante o feriadão no Rio de Janeiro, sobretudo na cidade de Angra dos Reis. Também trágico e triste foi o que aconteceu de ontem para hoje no interior do Rio Grande do Sul. Aquecimento global, efeito estufa, força da natureza, descaso das autoridades, pura fatalidade... em quem pôr a culpa?
Não é novidade a instabilidade do clima mundial nos últimos anos, com verões cada vez mais longos e rigorosos, estações de grande escassez de chuva e outras de demasiado exceso. A natureza tem vontade própria. Abalada pela poluição, pelo desmatamento e pela má administração do lixo produzido no planeta, essa vontade se desequilibra e potencializa fenômenos que quase sempre terminam em calamidades, onde quem paga é a própria humanidade.
Ondas, desmoronamentos, ciclones, terremotos e outras fatalidades são impossíveis de deter e muitas vezes impossíveis de prever. Políticas ruins de consumo, incentivos ao desperdício, mal aproveitamento de recursos, descasos com o meio ambiente - esses são fatos evidentes, não necessitam previsões e são totalmente reversíveis, onde todos podemos fazer nossa parte, por menor que seja.
Não há como duelar contra a força da ntureza, mas com cuidado podemos conter parte de sua fúria, pois, no fim das contas é contra nós mesmos que ela poderá se voltar. Entre tantas promessas furadas de Ano Novo, pense um pouco em cuidar do planeta, começando por sua casa. Jogue o lixo no lixo, feche bem a torneira, desligue o seu PC, apague a luz ao sair e agradeça por estar são e salvo das catástrofes que estão abalando o mundo lá fora.
Tenha um feliz 2010!

»MAURICIOPÉDIA: Debaixo D'Água foi composta por Arnaldo Antunes e faz parte de seu álbum de 2001, Paradeiro. Foi gravada também por Maria Bethânia em Mar De Sophia, de 2006.«