quarta-feira, 19 de maio de 2010

CINEMA: ANTES QUE O MUNDO ACABE

Um envelope pardo e uma disputa amorosa são as peças-chaves para a trama de Antes Que O Mundo Acabe (Brasil, 2009), uma incursão sutil e certeira no complexo universo da adolescência. Na fictícia Pedra Grande, no interior do Rio Grande do Sul, onde o meio de transporte predominante é a bicicleta, vive Daniel (Pedro Tergolina), um adolescente de 15 anos sem muitas ambições, cujo tempo divide entre as aulas no colégio católico, o melhor amigo Lucas (Eduardo Cardoso) e a namoradinha Mim (apelido para Jasmim, papel da atriz Bianca Menti). A vida do garoto começa a sacudir quando um envelope remetido da Tailândia chega para ele pelo correio, quase ao mesmo tempo em que Mim resolver lhe pedir um tempo, abrindo espaço para o amigo Lucas entrar na disputa pelo coração da garota.
Alguns eventos são desencadeados a partir desses episódios, e o modo com que Daniel passa a encarar o mundo e as pessoas a sua volta é a essência da história contada pela diretora Ana Luiza Azevedo, estreante em longas metragens. Forma-se então um jogo de atos, consequências e responsabilidades interessante e cativante. De forma simples e direta, o filme se desenrola e evolui com graça, divertindo e comovendo. Produzida pela Casa de Cinema de POA, a fita acerta o tom e transforma em um enredo criativo um tema tão comum e em parte já banalizado pelo cinema contemporâneo.
Com belas locações naturais e externas filmadas em Porto Alegre (destacando pontos famosos do Centro), além de uma trilha sonora "bacaninha", Antes Que O Mundo Acabe mostra o mundo sob o olhar destes jovens, com seus conflitos internos, seus becos sem saída, seus medos e suas indecisões, e comprova que ser jovem hoje em dia não é tão fácil quanto possa parecer. O elenco, formado por atores desconhecidos, dá um tempero extra na trama através de boas interpretações e passa em muitas cenas um ar familiar e nostálgico: impossível não se reconhecer em várias situações cotidianas que acontecem conosco constantemente, mas que chegam com outra graça na tela de cinema, quando aqui, delas somos os voyeurs. As cenas dramáticas são tiradas de eventos que nos soariam triviais, mas que na fita, bem trabalhados, ganham força. As cenas mais divertidas aparecem para fazer o equilíbrio, dentre as quais, a menina Maria Clara (Caroline Guedes), irmã caçula de Daniel, é a protagonista-mor.
Ponto para a equipe, que soube conduzir o bom roteiro, escrito pela diretora em parceria com Paulo Halm, baseado no livro homônimo de Marcelo Carneiro Da Cunha, sem introduzir reviravoltas surpreendentes, apelar para a polêmica ou para a comoção fácil, e ainda assim prender o espectador e agradá-lo em cheio.

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